Seis anos depois da mais recente visita a Porto Alegre, o grupo carioca Amok Teatro retorna com dois espetáculos inéditos na Capital, representativos de uma pesquisa sobre a história, a cultura e o imaginário africanos iniciada em 2014. Os trabalhos estão na grade do 12º Festival Palco Giratório Sesc/POA, com atrações de diferentes regiões do país até dia 28.
Com sessões neste sábado (20) e domingo (21) no Teatro Renascença, Salina (A Última Vértebra), de 2015, é uma peça do escritor francês contemporâneo Laurent Gaudé sobre uma mulher banida de sua cidade, em uma África mítica e ancestral, depois de ser acusada de abandonar o marido com quem foi casada à força e teve um filho. A ira de Salina na busca por vingança leva ao nascimento de outra cria, que inicia uma guerra com a primeira. Com 3h40min de duração (incluindo intervalo de 20 minutos), o espetáculo é uma expedição a outro tempo-espaço.
Já Os Cadernos de Kindzu (2016), que estará no palco do Teatro do Sesc Centro na terça e na quarta-feira, é uma recriação a partir de uma das duas tramas do romance Terra Sonâmbula (1992), do escritor moçambicano Mia Couto. Diferentemente de Salina, a montagem evidencia uma África pós-colonial, materializada historicamente na guerra civil moçambicana após a independência, contexto em que o personagem-título parte de sua vila para uma viagem iniciática.
Depois de uma trilogia sobre guerras contemporâneas composta por O Dragão (2008), Kabul (2009) – ambos vistos em Porto Alegre – e Histórias de Família (2012), o Amok Teatro aprofunda ainda mais sua pesquisa a respeito das formas da narração em cena, como explica Ana Teixeira, diretora de Salina e Kindzu em parceria com Stéphane Brodt:
– Salina traz o aspecto da oralidade da narrativa, da tradição de se contar uma história em roda. É uma narrativa mais aberta. Em Kindzu, percebemos toda a prosa poética de Mia Couto, mas tivemos liberdade para encontrar uma realidade cênica para ela.
Motivado pela premissa de que o trabalho de um grupo não envolve apenas espetáculos, mas também um esforço de formação que não é necessariamente visível ao público, o Amok Teatro realizou uma ampla preparação, incluindo um encontro entre artistas negros do Rio de Janeiro para troca de experiências e um mergulho em tradições de matriz africana como o candomblé e o congado, que inspiraram a noção de ancestralidade presente em Salina. Com suas duas visões da África, o grupo se refere também ao Brasil e seus impasses. Ana ressalta a dimensão política das peças:
– Kindzu, por exemplo, dialoga com o que vivemos hoje: o desmantelamento do país, a desordem social, a pilhagem de uma nação.
Foi importante, conforme a diretora, a ideia de "revisitar o signo negro em cena":
– Os atores negros sempre foram confinados aos mesmos clichês. Aqui, no entanto, eles representam reis, rainhas, guerreiros, uma civilização inteira.
AMOK TEATRO NO 12º FESTIVAL PALCO GIRATÓRIO
SALINA (A ÚLTIMA VÉRTEBRA)
Neste sábado (20) e domingo (21), às 19h. Duração: 3h40min (incluindo intervalo de 20 minutos). Recomendação: 12 anos.
Teatro Renascença (Erico Verissimo, 307), em Porto Alegre.
OS CADERNOS DE KINDZU
Terça (23) e quarta-feira (24), às 19h. Duração: 2h10min (incluindo intervalo de 20min). Recomendação: 14 anos
Teatro do Sesc Centro (Alberto Bins, 665), em Porto Alegre.
Ingressos para cada espetáculo: R$ 10 (comerciários e dependentes com cartão Sesc/Senac, estudantes, classe artística e maiores de 60 anos), R$ 15 (empresários e dependentes com Cartão Sesc/Senac) e R$ 20 (público em geral).
Pontos de venda: bilheteria do Sesc Centro (Alberto Bins, 665), de segundas a sextas, das 8h as 19h45, e até às 15h para a apresentação do dia, e aos sábados, das 8h às 13h. Se houver disponibilidade, na bilheteria de cada teatro, uma hora antes da sessão.