Jair Kobe chegou a ter medo de que suas filhas deixassem o "tu" para aderir ao "você". A troca do pronome pessoal tipicamente gaúcho, parte da cultura informal do Rio Grande do Sul, pelo pronome de tratamento mais usual acima do Mampituba se tornou uma tendência recente entre as crianças nascidas por aqui – e serviu de pista para que o humorista encontrasse o tema do novo show do Guri de Uruguaiana, seu personagem mais famoso.
Guri de Uruguaiana 2: A Missão (Quase Impossível) tem 16 sessões marcadas para o Theatro São Pedro entre quarta-feira e 16 de abril e vai gerar também um DVD, gravado nas duas últimas apresentações da temporada. O show, que além de humor tem música e dança, reforça o papel de Jair Kobe como embaixador da cultura gaúcha, missão – como o título diz – que o humorista leva a sério.
– Utilizo o humor para poder chegar mais perto das pessoas, e a minha missão é realmente preservar a cultura gaúcha. Os costumes estão se modificando, os jovens são muito mais influenciados pelos youtubers do que qualquer coisa. Eles não vão estar falando "tu" daqui a 10 anos, e eu quero que as crianças falem "tu" – afirma Kobe.
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Se o posto de embaixador parece pretensioso para "um cara que sobe no palco com um bigode e uma bombacha", como o próprio artista por vezes define seu personagem, o currículo e o alcance do Guri o credenciam ao cargo: são 10 anos desde sua criação, mais de 2 milhões de espectadores nos espetáculos já apresentados e a fanpage gaúcha mais popular do Facebook (são 2,8 milhões de seguidores, mais do que a Dupla Gre-Nal, por exemplo). O currículo de Kobe, é bom deixar claro, não se resume ao Guri: o humorista foi criado em CTGs, cercado de artistas e, como músico, integrou o grupo Canto Livre nos anos 1980, antes de sequer imaginar ganhar a vida como cômico.
– Com o humor, posso falar da indumentária, do jeito de falar, dos autores – avalia. – Meu compromisso é com o humor, mas faz parte do personagem manter acesa essa coisa da cultura do Rio Grande do Sul.
Guri de Uruguaiana 2: A Missão (Quase Impossível) é a primeira grande atualização do show do personagem, que está em cartaz desde 2008. Kobe recriou o roteiro, incluiu passagens teatrais e mudou o cenário – começa com a chegada aérea do Guri, versão agente secreto, de terno. O humorista atualizou outros personagens e, é claro, recheou os 90 minutos de piadas novas.
– Quis fazer uma atrás da outra, sem muito respiro – revela.
É claro que o clássico do cancioneiro local Canto Alegretense está presente: a primeira parte do show é uma grande piada em torno das versões do Guri para o clássico regionalista. Mas há mais: sapateadores, corpo de bailarinos, banda ao vivo, grupo de hip hop – tudo novidade do espetáculo que estreia nesta quarta-feira.
É no meio dessa mistura, com sua comicidade escancarada, em que a dança, a música e os costumes do Rio Grande do Sul são saudados de maneira bem-humorada, que Jair Kobe imagina que possa disseminar a cultura gaúcha para um público maior que o dos CTGs. Até por isso, o humorista promete convidar para participações especiais nomes da cultura local – para a gravação do DVD, Teixeirinha Filho e Teixeirinha Neto devem subir ao palco e cantar Querência Amada. Em outro momento, Pedro José Schwengber, idealizador da Escola do Chimarrão, também deve participar de uma esquete em forma de homenagem.
Kobe comenta:
– O Theatro São Pedro é histórico, já recebeu grandes estrelas do Brasil. E agora verá 16 sessões minhas, falando sobre a cultura regionalista. Às vezes, as pessoas não se dão conta da grandeza da coisa.
GURI DE URUGUAIANA 2: A MISSÃO (QUASE IMPOSSÍVEL)
De 29 de março a 16 de abril, sempre de quartas a sábados, às 21h, e domingos, às 18h.
Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº).
Ingressos: R$ 30 (galeria), R$ 50 (camarote lateral), R$ 70 (camarote central) e R$ 90 (plateia e cadeiras extras), à venda no local. Desconto de 50% para associados do Clube do Assinante nos cem primeiros ingressos de cada dia e 20% nos demais.