Há quem acredite que a maturidade é o momento de desacelerar e se acomodar na vida. Já a coreógrafa Bia Diamante resolveu criar um novo empreendimento. Ela inaugura amanhã uma sala de espetáculos intimista que fica na residência onde mora, há 18 anos, em Porto Alegre. A Sala Cênica – Estúdio de Trabalho é um “teatrinho”, como chama carinhosamente, com apenas 20 cadeiras, apropriado para apresentações em pequeno formato. Corresponde a todas as necessidades de Bia, que utilizará o espaço exclusivamente para ensaiar e apresentar seus trabalhos e ministrar aulas. Não há equipamentos de som, pois a coreógrafa prefere sempre o silêncio. A reforma da casa foi bancada por ela mesma.
– Se eu não estivesse com 60 anos, não estaria fazendo isso. É quando você quer ter um canto onde possa trabalhar com mais facilidade. Em um primeiro momento, é mais difícil, porque tem de criar uma estrutura, mas depois adquire mais liberdade. Foi uma questão de maturidade.
Para Bia, a velhice – ela não tem problemas com esta palavra – não é motivo de nostalgia. É momento de refletir sobre como viver da melhor maneira:
– Há uma hora em que você sente que não tem mais volta. E não há tristeza nisso. A questão é o que você está fazendo com o envelhecimento. A ciência nos deu mais tempo de vida, mas nossa cabeça ainda está entendendo o que é viver mais. Não quero me assustar com isso, quero ficar feliz.
Bia escalou a intérprete Mara Nunes, 53 anos, para o espetáculo solo de teatro-dança que inaugura a Sala Cênica. Composições Existenciais é um tour de force de apenas 30 minutos, pois a coreógrafa acredita que o tempo contemporâneo é outro. Isso não significa, do ponto de vista dela, que sejam superficiais. Bia acredita que o tempo da arte é o tempo necessário para se expressar. Mais do que isso seria redundante.
Os 20 espectadores não necessariamente identificarão o tema da maturidade nos gestos de Mara. Em vez disso, terão a seu dispor uma abertura para reflexão sobre todo o ciclo da vida – alguns momentos remetem a brincadeiras de criança. Em cena, a intérprete lida com almofadas, pés de poltrona e jogos americanos. Ao fundo do espaço cênico, está um painel que Bia pintou, em um reencontro com a primeira arte que experimentou, ainda criança. Na juventude, trocou a pintura pela dança ao assistir a um espetáculo de Pina Bausch, em um momento de revelação. Mara observa:
– Acho que, neste espetáculo, sou a pintura da Bia. Uma pintura ao vivo, com formas que se movimentam. Quero passar não apenas o sentimento dela, mas também o das pessoas que estão assistindo. Foi um trabalho em conjunto. A Bia conversou comigo, e eu comecei a imaginar, a vivenciar as coisas sobre as quais ela estava falando.
COMPOSIÇÕES EXISTENCIAIS
Estreia neste sábado (11/3). Sábados e domingos, às 17h. Temporada até 30 de abril.
Sala Cênica – Estúdio de Trabalho (Avenida Bagé, 297), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 20. Desconto de 50% para classe artística, estudantes e pessoas acima de 60 anos. À venda exclusivamente pelos telefones (51) 3573-3330 e (51) 99319-3330, com tele-entrega (sem taxa). A plateia tem capacidade para 20 lugares por apresentação.