Se o ano de 2016 foi difícil para você, imagine para a cultura. Com a retração na atividade econômica, as torneiras do financiamento público e privado secaram. Sem elas, as leis de incentivo – que são os principais mecanismos de fomento ao setor – são estéreis. Mas o Porto Verão Alegre, que começa neste sábado (7/1) e vai até o dia 19 de fevereiro, em diferentes espaços, decidiu não participar da crise.
É o que garante Zé Victor Castiel, um dos idealizadores e organizadores do evento, ao lado de Rogério Beretta. Dos R$ 2 milhões do projeto aprovado pela Lei Rouanet, foi captada a metade, o equivalente ao que foi obtido em 2016. Qual o segredo para manter um evento que movimenta a cultura da Capital em dois meses enquanto outras iniciativas são drasticamente enxugadas ou até mesmo extintas?
– Não há segredo – responde Zé Victor. – Se passarmos a vida inteira reclamando que está difícil, não fazemos nada. Caso contrário, não teremos mais cultura no Rio Grande do Sul. Tentamos arrecadar o que pudermos e economizar onde for possível, mas nunca na qualidade. Não vamos economizar na programação.
Destaques da programação: o que assistir no Porto Verão Alegre 2017
Espetáculo ilustra a obra de Caio Fernando Abreu em chave lírica
Os números comprovam: serão 68 espetáculos, 10 a mais do que a edição de 2016. E os preços dos ingressos são acessíveis: custam de R$ 20 a R$ 30 antecipados e de R$ 20 a R$ 40 na hora dos espetáculos. Pelo terceiro ano consecutivo, o Porto Verão é coprodutor de um novo espetáculo. Desta vez, será Caio do céu, homenagem à obra de Caio Fernando Abreu dirigida por Luís Artur Nunes e roteirizada por Deborah Finocchiaro, com atuações dela e de Fernando Sessé. O prêmio de R$ 40 mil oferecido aos espetáculos coproduzidos nas edições anteriores, no entanto, foi substituído por um cachê de R$ 20 mil, além do pagamento do aluguel do Theatro São Pedro.
Sim, o evento chega à sua maioridade. Nesta que é a sua 18ª edição, está aprimorado. E o cuidado com a curadoria que norteou a edição anterior continua. Zé Victor estima que haja, desta vez, menos comédias do que espetáculos de outros gêneros. A ideia é contar com atrações para todos os públicos, das produções de humor populares até montagens premiadas. Neste ano, as peças para os pequenos espectadores foram agrupadas na Mostra de Teatro Infantil Ronald Radde, com curadoria de Karen Radde. É uma forma de homenagear seu pai, o diretor e dramaturgo da Cia. Teatro Novo que morreu em 2016, aos 71 anos.
Sem deixar de lado os trabalhos que são sucesso de público e viraram marca registrada do Porto Verão, como Se meu ponto G falasse e Pois é, vizinha..., o evento conta com atrações que terão suas primeiras sessões. Além de Caio do céu, estreiam Amor de 4 e O que terá acontecido a Baby Jane?, ambos com direção de Zé Adão Barbosa; Comédia vale tudo, com Eduardo Mendonça, Lucas Sampaio e Thiago Prade; Pedro Ernesto e Radicci, de Pedro Ernesto Denardin e Iotti; Sonho de uma noite de verão, de Evandro Soldatelli; Um hippie, um punk, um rajneesh, de Bob Bahlis; e Um caso para terapia, de Simone Telecchi.
Zé Victor avalia que existe uma percepção da classe teatral de que vale a pena estrear novos trabalhos dentro do Porto Verão Alegre por se tratar de "alta temporada" nos teatros da Capital:
– Tenho a impressão de que a indústria do entretenimento de baixo custo não vai sofrer com a crise. A professora que está recebendo salário parcelado ou o funcionário público terão como pagar R$ 25 ou R$ 30 para se divertir em dado momento.
O organizador do evento celebra, também, a continuidade das contrapartidas sociais. Instituições receberão a doação de 3,9 mil ingressos e quatro entidades receberão oficinas de teatro. Atenção também foi dada à acessibilidade: alguns espetáculos terão tradução em Libras e audiodescrição – recursos que devem ser expandidos no ano que vem.