O dramaturgo e diretor Júlio Conte conquistou o público ao abordar o universo feminino em Se meu ponto G falasse, peça que estreou em 1997. Agora, chegou a vez de levar ao palco as angústias masculinas. O espetáculo A mecânica do amor estreia nesta sexta-feira no Teatro Renascença, às 20h, e fica em cartaz até 14 de agosto.
Escrita pouco tempo depois de Se meu ponto..., a peça nasceu como uma espécie de contraponto ao espetáculo sobre as mulheres, mas nunca havia saído do papel. Até que, no ano passado, Conte decidiu tirar a ideia da gaveta para trabalhar junto com os atores Fabrizio Gorziza e Lucas Sampaio – cada um interpreta dois personagens em cena.
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– O texto foi evoluindo, virou uma peça bem estruturada, de teatro dramático. Criamos uma trama contemporânea. Mantivemos a estrutura, falando do universo masculino, mas ocorreram alterações importantes. Praticamente reescrevi – explica o diretor.
Um dos principais autores do teatro gaúcho, Conte havia lançado seu último texto inédito em 2012, quando estreou Beckett & Bion – Gêmeo imaginário. Mas a gaveta, segundo ele, está "estufada". Ainda em 2016, deve lançar pelo menos mais uma montagem: Partícula de Deus.
– Boa parte dos textos que têm aparecido hoje são adaptações. O dramaturgo mudou de papel, não é mais o cara que escreve – opina Conte. – A minha proposta é fazer uma restauração, que estou chamando de "neodrama". Focar na essência, não no teatro espetacular – explica.
De relações amorosas à corrupção diária
Em A mecânica do amor, o grande desafio do autor foi abordar o universo masculino de forma nua e crua abusando da ironia, mas sem cair no clichê ou na grosseria. Na história, os mecânicos Jambolão e Caneta buscam seu lugar no mundo, tentando decifrar as mulheres, o universo online e os desafios da vida profissional. Mas a visita inesperada de Ricky, político que está sendo investigado, e Anselmo, seu amigo lobista, traz à tona um evento do passado e faz com que o caminho dos quatro se cruzem.
Terror do fracasso, corrupção e ganância são alguns dos temas tratados no espetáculo, e a relação com o contexto do país é inevitável. A exemplo de Bailei na curva (1983), sucesso de Conte lançado no apagar das luzes da ditadura militar, a nova peça não deixa de dialogar com o atual momento político.
– Sempre procurei trabalhar aquilo que estava vivendo, o momento, as situações, os conflitos. Essas questões de agora estão na boca de todo mundo, mas na perspectiva da intolerância. As reflexões só se produzem em um ambiente de tolerância – avalia o dramaturgo.
E as semelhanças com Bailei na curva não terminam por aí. O próprio diretor percebe em A mecânica do amor características que marcaram seus trabalhos mais conhecidos:
– Essa peça tem uma coisa de Bailei na curva e Ponto G, um potencial. É divertida, engraçada e emocionante. Os personagens também são muito carismáticos.
A mecânica do amor
Texto e direção: Júlio Conte. Com Lucas Sampaio e Fabrizio Gorziza.Teatro Renascença (Erico Verissimo, 307). Sextas, sábados e domingos, às 20h, até 14 de agosto.
Ingressos: R$ 25 (antecipados) e R$ 30 (na hora).
Pontos de venda: Loja My Ticket (Rua Padre Chagas, 327), Academia Alternativa Unidade Cidade Baixa (Rua da República, 54), Frenzy Saloon (Osvaldo Aranha, 878) e site myticket.com.br (com cobrança de taxa). No dia da sessão, a bilheteria abre uma hora antes do início do espetáculo.