Passou tão rápido que nem parece, mas faz 13 anos que o trio formado pelos atores Zé Victor Castiel, Rogério Beretta e Oscar Simch estreou a comédia Homens de perto, um dos maiores sucessos de público do teatro gaúcho. A ideia, na época, era fazer um contraponto masculino a comédias de costume dirigidas para o público feminino. Com humor autodepreciativo, eles queriam mostrar que tudo o que as mulheres falavam dos homens é a mais pura verdade. Com o tempo, o espectro de piadas se ampliou: em 2010, estreou Homens de perto 2, outro sucesso que seguia a receita da sátira de costumes com crítica social.
Em 2003, ano do primeiro espetáculo, o Brasil entrava em um ciclo de crescimento e otimismo que contrasta com os tempos atuais. Debochar da crise política do país é uma das motivações do espetáculo Homens de perto – Desgovernados, que estreia nesta quarta-feira no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, e fica em cartaz até domingo. O diretor Néstor Monasterio esclarece que é um trabalho "seminovo". Para Oscar, trata-se de um "híbrido". É que há cenas novas e outras retiradas dos dois espetáculos anteriores, algumas delas reformuladas.
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Estão no palco os três "falcatruas", como os próprios atores definem seus personagens, que tentam se dar bem na vida à custa dos demais. Entre as novidades, está uma cena em que eles inventam estratagemas para se aposentar sem ter tempo de serviço – a ideia é mostrar que a corrupção começa no dia a dia. Em outra, congressistas se envolvem em uma discussão regimental que deixa os verdadeiros problemas do país em segundo plano.
Do primeiro Homens de perto, volta reformulada a cena dos militares de pijama com saudade dos tempos da ditadura. Do segundo espetáculo, aparece readaptado o esquete dos separatistas. São cenas escritas pelo dramaturgo Artur José Pinto, em diálogo com os atores e o diretor, desde antes do acirramento da crise. Zé Victor considera este um trabalho "maduro" e também "mais ácido" em relação aos anteriores:
– Pensamos sobre como é difícil fazer humor nesta época complicada, em que se exige respeito de tudo quanto é lado. O comediante se questiona: vou rir de quê? Vamos rir de nós mesmos, tendo como pano de fundo a política nacional.
É consenso no trio que está mais difícil fazer comédia do que há 13 anos devido à correção política que se tornou mais evidente com o tempo e pela delicada situação política do Brasil. Beretta contextualiza:
– Houve um momento em que o país estava claramente dividido em dois lados, digamos: os coxinhas e os petralhas. Com os escândalos que continuaram depois do impeachment, as pessoas ficaram confusas. Parece que todos nos frustramos de alguma maneira com quem nos representava.
Embora cada um tenha sua convicção política, eles esclarecem que, em cena, não tomam partido de ninguém. A ideia é rir de tudo, explica Oscar:
– Fazia tempo que não tínhamos uma situação tão complicada no Brasil, mas tentamos lidar com o senso comum. Parece haver um consenso sobre aquela votação espúria que ocorreu no Congresso (a votação da admissibilidade do impeachment na Câmara dos Deputados). Nos identificamos com o grande público.
Pois aí entra a crítica bem-humorada de Néstor Monasterio sobre o que considera uma "concorrência desleal" da classe política com os comediantes.
– A política hoje é uma palhaçada, um escracho. E eles ainda têm a televisão à sua disposição – alfineta.
HOMENS DE PERTO – DESGOVERNADOS
De quarta a sexta-feira, às 21h; sábado, às 20h; e domingo, às 18h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 30 (galerias), R$ 40 (camarote lateral) e R$ 60 (plateia e camarote central). Desconto de 20% para sócio do Clube do Assinante. Venda antecipada na bilheteria do teatro.