Anunciado como o encerramento da trilogia e tendo esta informação reforçada em seu título, Venom: A Última Rodada chega aos cinemas nacionais nesta quinta-feira (24). A produção tem como objetivo dar uma sobrevida ao capenga universo cinematográfico do Homem-Aranha da Sony Pictures — que não tem, justamente, o Homem-Aranha, cedido para o Universo Cinematográfico Marvel, o MCU.
A terceira aventura do anti-herói protagonizada por um inexplicavelmente empolgado Tom Hardy — que também assina como produtor e cocriador da história — tenta emular o sucesso inesperado do primeiro filme, lançado em 2018, com faturamento de US$ 856 milhões. Tal desempenho não foi repetido pela sequência, Tempo de Carnificina, em 2021, mas que ainda conseguiu US$ 506 milhões em tempos de pandemia. Dois sucessos.
Só que, depois deles, o universo da Sony entregou duas catástrofes em forma de filmes: Morbius (2022) e Madame Teia (2024). E o vindouro Kraven, o Caçador, previsto para 12 de dezembro, também não tem as melhores expectativas. Ou seja, caiu nas costas de Venom tentar conseguir um resultado decente para a franquia. O terceiro filme, porém, deve abrir nas bilheterias norte-americanas com o pior desempenho da franquia, com US$ 65 milhões — porém, melhor que seus parceiros fracassados.
Para obter esse êxito pretendido, A Última Rodada entrega justamente aquilo que o público que foi aos cinemas assistir aos dois títulos anteriores, provavelmente, quer — ou não estaria interessado em um novo: ver mais do bromance entre Eddie Brock (Hardy) e Venom. A dupla, agora, está sendo caçada por autoridades da Terra, mas também por criaturas cósmicas, que querem o simbionte e o seu hospedeiro para libertar o maléfico Knull (Andy Serkis).
Novamente, a história é um fiapo, com o roteiro fazendo pouco esforço para seguir a própria lógica — a explicação para a existência do códex, objeto de desejo do vilão, pouco faz sentido e o problema poderia ser facilmente resolvido, mas, assim, não haveria filme. A ideia é ser bobo, abraçando a comédia e o absurdo, mesmo que não tenha tanta graça e nada seja tão absurdo assim.
Ação, piadas e pets
No capítulo final da trilogia, quem assume a direção é a estreante no cargo Kelly Marcel, que trabalhou no roteiro dos outros dois filmes anteriores — e deste também. Ela demonstra dificuldade no comando do longa, sem conseguir entregar com o mínimo de refinamento aquele que é um dos pontos centrais em filmes do subgênero de super-heróis: boas cenas de ação. São apenas explosões e confusão de gosmas coloridas para todo o lado.
Além disso, os momentos cruciais do longa são muito escuros, deixando o espectador com dificuldade de definir, muitas vezes, o que está em quadro. Tal problema é facilmente explicado pelo seu diretor de fotografia, Fabian Wagner, que trabalhou em The Long Night, episódio de Game of Thrones que gerou polêmica por ser um breu total.
Entre as novidades no elenco, estão Juno Temple (Ted Lasso), que interpreta a cientista Dra. Payne, que tem um arco grosseiramente apresentado para dar alguma relevância para a personagem — e não funciona; Chiwetel Ejiofor (Doutor Estranho), que faz o militar Rex Strickland, responsável por caçar Venom e Eddie na Terra; e Andy Serkis (trilogia O Senhor dos Anéis), que vive o Knull, mas somente mostra o rosto na cena pós-créditos. Todos unidimensionais e com diálogos expositivos, mostrando uma grande dificuldade da equipe envolvida em desenvolver qualquer sujeito em cena, tirando os personagens de Hardy.
Já na possível despedida da dupla Eddie e Venom — mensagem que está no slogan da produção, inclusive: "Até que a morte nos separe" — é onde a produção investe para levar emoção ao público na reta final. Porém, o resultado é fraco, com bastante peso para as decisões da inexperiente diretora, e as cenas pós-créditos, que não permitem uma conclusão definitiva de nada que ainda possa render alguns trocados.
No final, o que é mais interessante em A Última Rodada são os animais, desde os cães de rinha que são libertados no começo do filme até os que viram hospedeiros, por alguns segundos, do simbionte. Há peixe, sapo e o já icônico cavalo tomados pela gosma preta alienígena. Surpreendentemente, este é tão o diferencial do filme que até os créditos sobem mostrando as transformações de vários bichos diferentes. O resumo da jornada, no final, acaba sendo só mais uma piadinha, porém honesta, uma vez que nunca se levou a sério.