— Oi, eu sou o Goku!
Essa frase fez parte da infância de quem cresceu assistindo aos desenhos animados na televisão aberta no Brasil, entre os anos 1990 e 2000. Era assim que se encerravam os episódios do anime Dragon Ball Z, com o personagem principal da saga, Goku, anunciando o que o público iria encontrar no próximo capítulo da série — muitas vezes, com spoilers pesadíssimos.
Esse fenômeno, porém, não foi isolado no território nacional. Nascido no Japão, Dragon Ball foi — e segue sendo — um sucesso ao redor do mundo e um dos grandes expoentes da cultura pop asiática no planeta.
40 anos de Dragon Ball
O anime, que atingiu massas enormes, surgiu a partir da obra original, em mangá, que teve o primeiro volume lançado em 3 de dezembro 1984, na revista Weekly Shōnen Jump — posteriormente, os 519 capítulos lançados foram aglomerados em 42 volumes individuais.
Ou seja, em 2024, a obra de Akira Toriyama completa 40 anos de existência — um evento celebrativo foi realizado em Tóquio no último dia 6, reunindo milhares de pessoas. Mesmo que o criador do anime tenha morrido no último 21 de março, deixando uma legião de fãs desamparados, o seu legado segue, assim como as novas aventuras da história.
Assim, no próximo dia 11, chega à plataforma Crunchyroll o novo anime da saga, Dragon Ball Daima — no Max, a animação chega em 18 de outubro e ainda tem lançamento confirmado na Netflix. Haverá, também, posteriormente, uma versão em mangá.
O novo anime e suas atualizações
A produção pretende voltar às origens, iniciando após a batalha dos heróis contra Majin Boo, vista no encerramento de Dragon Ball Z. Na trama inédita, um novo e misterioso personagem usa as Esferas do Dragão e o poder de Shenlong para transformar Goku e seus amigos em crianças, obrigando todos a viajar para novos mundos a fim de resolver o problema. A promessa é uma história recheada de aventura, abraçando novos e importantes temas.
— As coisas mudam, evoluem. E Dragon Ball também passa por atualizações. Atualmente, a proposta é diferente daquela dos anos 1980. A gente vê que algumas situações daquela época, atualmente, não podem mais ser repetidas como piadas. No Brasil, infelizmente, a gente vê muitos haters disfarçados de fãs, que não conseguem entender essa evolução— avalia Herman Figueira, responsável pela página Dragon Ball Brasil, que soma quase 140 mil fãs.
Essa transformação pela qual a franquia passou, segundo Figueira, consiste em, por exemplo, deixar manifestações machistas de fora das narrativas, algo que era comum nos primórdios da saga, tanto nos mangás quanto nos animes.
De acordo com o especialista nas aventuras, esse tipo de adaptação é essencial para que as novas histórias se enquadrem no mercado atual e, assim, possam seguir existindo.
— Algumas pessoas não entendem esse tipo de mudança, pelo saudosismo, e dizem que já não é mais a mesma coisa: "Ah, Dragon Ball perdeu a sua essência". Só que se você perguntar se as pessoas assistiram às últimas obras, elas respondem "não". Ué, não faz sentido (risos) — complementa Figueira, entusiasmado que o pupilo de Toriyama, o mangaká Toyotarō, tem plenas condições de levar adiante a obra do mestre criador.
Obra atemporal
Os 42 volumes do mangá Dragon Ball venderam, globalmente, cerca de 300 milhões de exemplares, sendo uma das franquias mais bem-sucedidas da história, perdendo apenas para One Piece. No total, a história já gerou seis animes e mais de 20 filmes animados, além de uma desastrosa adaptação live-action, Dragon Ball Evolution, em 2009.
Mesmo que já tenha 40 anos, a saga de Goku e seus amigos segue conquistando novas gerações e ganhando edições especiais — no Brasil, pela editora Panini, detentora dos direitos da franquia dos mangás —, mostrando que a obra de Toriyama segue atemporal.
Conforme o jornalista Émerson Vasconcelos, criador da ComicCon RS, a mente por trás de Dragon Ball, além dos animes e mangás japoneses da época, também se influenciou pela cultura global para criar a saga de Goku.
Em sua essência, a obra traz uma forte inspiração do romance chinês do século 16 Jornada ao Oeste e do astro Jackie Chan. Além disso, o que acontecia no universo pop ocidental também foi importante para a saga, como animações da Disney e heróis.
— O Akira Toriyama era fã do Superman. Então, todas as similaridades do Goku com o Homem de Aço, como as origens em Krypton e no planeta do Saiyajin, não são coincidências. O cara realmente gostava e reverenciava muito os quadrinhos de super-heróis na sua obra.
Para explicar o que torna esses personagens tão cativantes e atemporais, Vasconcelos acredita que, no meio de explosões e lutas que duravam diversas páginas no mangá ou numerosos episódios no anime, os diálogos é que transformaram Dragon Ball em uma obra tão aclamada. Ou seja, a pancadaria e os poderes são o chamariz, mas o que realmente prende a atenção do público são as conversas, bem como a inventividade de todo um universo distinto, com criaturas e arquiteturas próprias.
— O Akira era muito bom de desenvolvimento de personagens, você se importa com o que vai acontecer com eles, o que eles vão falar, como vão se relacionar entre eles. Ele era muito bom para criar tanto heróis quanto os antagonistas. Eu conheço tanto fãs do Goku quanto fãs do Vegeta. O Akira tinha um toque de Midas na hora de criar os personagens, que são tudo, menos rasos — completa o jornalista.