— Come abacate, bem! — diz com frequência a Vovó Juju, uma das personagens mais amáveis da animação Irmão do Jorel e que, obviamente, tem uma grande admiração pela fruta.
A frase, que poderia ser uma simples sugestão da idosa, caiu nas graças do público e estampa, hoje em dia, canecas, camisetas, tatuagens e é tema de vários cortes que se alastram pelas redes sociais. Parece algo singelo, mas exemplifica, com apenas três palavras e o desenho da querida senhora, de camisolinha e pantufas, o cerne da animação: retratar uma típica família brasileira, com todas as suas peculiaridades e "maluquices", com inspiração na infância do criador, Juliano Enrico.
Mas, antes de virar animação, a saga de Irmão do Jorel já havia se iniciado em 2002, como uma história em quadrinhos desenvolvida por Enrico, na Revista Quase — que, depois, transformou-se em TV Quase, de onde nasceu, inclusive, o programa Choque de Cultura. Depois, o projeto foi vencedor de um concurso do Cartoon Network para investir em animações brasileiras. A série estreou no canal infantil em 2014 e, desde então, é um fenômeno de popularidade.
— Irmão do Jorel é o projeto de uma vida inteira. É o Santo Graal, cheio de vitamina de abacate dentro. É glorioso, maravilhoso e um pouco absurdo. Se eu realmente fizesse uma série sobre a minha família, ela seria muito mais louca do que Irmão do Jorel é. Na verdade, Irmão do Jorel é uma versão um pouco mais normal da minha família. Porque todos nós temos famílias excêntricas. Falar "família excêntrica" é redundante até — conta o criador da animação.
Segundo Enrico, o sucesso de Irmão do Jorel vem de sua habilidade de extrair elementos pessoais de suas vivências — e, também, das histórias dos demais roteiristas —, mas que sejam compartilhados por todos. Manias de avós, como o vício em abacates ou frases inspiradas, como "amor é empada", ajudam a criar uma história que pode ser assimilada como uma experiência coletiva.
— É quase como um delírio coletivo (risos), que mistura esse sincretismo cultural que é ser latino-americano e ter uma cultura tão única, mas, ao mesmo tempo, consome tantos heróis americanos. Uso como matéria-prima a minha família, as fotos da minha família, as décadas de 1980 e 1990, principalmente, para tentar me comunicar com as pessoas — adiciona Enrico, que é inspiração para o personagem principal da série, que nunca tem o nome revelado, sendo apenas o irmão do Jorel.
Novas aventuras
Nos últimos 10 anos, a aventura se transformou em um fenômeno pop nacional — inclusive, saindo das território brasileiro e chegando em outros mercados pela América Latina. E, de acordo com a Diretora de Estratégia de Kids & Animation da WBD Brasil, conglomerado que aglomera Max e Cartoon Network, Livia Ghelli, a produção está no top 10 de conteúdos brasileiros de maior performance no serviço de streaming neste ano, mesmo sem ter uma temporada nova desde 2022.
Isto muda a partir de sexta-feira (18), com a quinta leva de episódios estreando no Max — o lançamento no Cartoon Network ocorre no dia 21, às 13h. E, agora, o herói da história estará em uma nova fase, entrando no complexo mundo da pré-adolescência. Nos 23 capítulos desta temporada — sendo 11 lançados em outubro e os outros 12, em 2025 —, o irmão do Jorel encontrará novos amigos e inimigos, participará de aulas de ginástica, viverá peripécias como um menino-sereio e será responsável por buscar e levar as avós para uma escola de idosos, entre outras aventuras.
— Já é difícil produzir no Brasil e, quando se fala em animação, a gente coloca uma camada extra de dificuldade. E ver uma série fazendo tanto sucesso, vindo de histórias tão brasileiras, tão reais, tão próximas da nossa vida, ajuda abrir portas no mercado em si. Então, o sucesso de Irmão do Jorel é o sucesso do mercado, é o sucesso da animação brasileira — completa Livia.
Zé Brandão, produtor executivo da animação e sócio fundador do Copa Studio, que coproduz a série, celebra que a popularidade de Irmão do Jorel foi além do esperado. Ele acredita que isto é resultado de uma saga que conversa tanto com pais quanto com filhos, com todos conseguindo se divertir juntos. Além disso, também comemora que a produção ainda é aclamada pela crítica, recebendo prêmios tanto no Brasil quanto fora dele.
— A gente fez 10 anos e está falando: "Irmão do Jorel, 10 anos e além". Achamos que ainda tem muita lenha para queimar. E é muito amor. A gente só recebe carinho e queremos dar de volta. É um sonho realizado, sem dúvida nenhuma, poder ter uma série popular quanto essa — aponta Brandão.
Juliano Enrico complementa afirmando que, quando tudo começou, ouvia que deveria fazer uma animação com público-alvo, dentro de um recorte, por exemplo, dos 7 aos 11 anos. Ele, no entanto, bateu o pé e apostou em uma produção que tem a família como foco — afinal, foi a partir da dele que Irmão do Jorel nasceu:
— É uma série para as crianças assistirem com os seus pais. Eu me sensibilizo muito com os pais que precisam assistir as coisas com os filhos. E fico pensando: "Não quero dar para ele uma musiquinha repetitiva". Eu quero que eles se divirtam, que tenham o que conversar com os filhos, com os sobrinhos, com os alunos.