A repórter Cris Lopes testou a acessibilidade do Festival de Cinema de Gramado, que encerrou sua 52ª edição nesse sábado (17). Ela também participou de uma sessão com audiodescrição.
Calçadas quase perfeitas, ruas bem transitáveis e pessoas atenciosas. Essa é a primeira impressão de quem chega nas proximidades da Rua Coberta, saindo de um ônibus de excursão.
Apesar de alguns obstáculos no caminho e das incontáveis músicas durante o trajeto rumo ao Palácio dos Festivais, é possível andar pela Rua Coberta, onde fica o famoso tapete vermelho, mesmo sem piso tátil. O mesmo não ocorre ao transitar pelas laterais da rua, em função dos estabelecimentos comerciais existentes nas duas extremidades.
Já o acesso ao Palácio dos Festivais conta com escadas e rampas tanto na parte externa quanto interna, onde estão a sala de cinema (no primeiro andar) e o Museu do Festival de Cinema de Gramado, localizado no segundo andar.
No entanto, pessoas com dificuldade de locomoção podem encontrar problemas ao acessar o Museu por causa da escadaria que leva ao local. E, naturalmente, os museus não têm acessibilidade para pessoas cegas, devido aos elementos visuais envidraçados ou que não podem ser tocados. Como ocorre aqui.
Audiodescrição
Nesta 52ª edição, o filme Virgínia e Adelaide foi escolhido pelo Festival de Cinema de Gramado para receber uma sessão especial com recurso de audiodescrição.
Roteirizado por Jorge Furtado, que também dirigiu o filme ao lado de Yasmin Thayná, o longa-metragem aborda o encontro entre duas mulheres emblemáticas: Virgínia Leone Bicudo, a primeira pessoa a fazer psicanálise, e Adelaide Koch, a primeira psicanalista formada no Brasil. Pioneiras, elas enfrentam barreiras e preconceitos nos anos 1930.
Para essa sessão especial em Gramado, o roteiro foi feito previamente por uma audiodescritora roteirista e dois consultores com deficiência visual. A narração da audiodescrição foi transmitida ao vivo com equipamentos de radiofrequência aos deficientes visuais que retiraram o equipamento antes do início do filme.
A partir da audiodescrição, deficientes visuais conseguiram ter uma vivência igual ao de pessoas sem deficiência ao assistir conteúdos audiovisuais. Mesmo não passando pela experiência no Festival, Jorge Furtado revelou já ter assistido produções com audiodescrição:
Assisti em mais de um filme e lembro agora de Saneamento Básico. É interessante ver como detalhes de uma roupa fazem diferença para uma pessoa que não vê e que para gente que enxerga parece tão banal
Gabriela Correa, a Virgínia do filme, manifestou o desejo de conhecer melhor o recurso:
— Infelizmente não tive essa experiência e entendo o quanto é importante para as pessoas com deficiência visual. Se tiver uma oportunidade, ainda quero assistir a um filme com audiodescrição.
Já Sophie Charlotte, que interpreta Adelaide, lembrou da preparação para viver a personagem deficiente visual Maíra na novela Todas as Flores:
— Tive algumas vivências na composição da personagem e até estive no cinema, mas não passei pela experiência de assistir a um filme com o recurso e sem ver.