O Mal que Nos Habita, terror argentino do ano passado, foi lançado nos cinemas brasileiros em fevereiro, e chegou ao catálogo da Netflix na última semana. A história assinada por Demián Rugna chamou atenção de críticos e espectadores ao redor do mundo. Muitos perguntaram ao diretor se o roteiro era inspirado em fatos reais.
Rugna foi categórico: o filme não é baseado em uma história real, como disse no festival de cinema Fantastic Fest, nos Estados Unidos. Porém, existe uma inspiração para o contexto do longa. Segundo o Tecmundo, o diretor pensou no uso excessivo de pesticidas no interior da Argentina, fenômeno que resultou em um aumento nos diagnósticos de câncer entre os moradores do campo.
— Os proprietários dessas terras contaminam as terras com um produto chamado glifosato para matar pragas, e ele é um pesticida. Muitas pessoas que trabalham nos campos acabam sendo diagnosticadas com câncer. Há crianças com câncer, porque elas também são trabalhadores dessas áreas. E ninguém fala sobre isso — declarou.
Ao invés de abordar diretamente o problema de saúde, o argentino resolveu transformá-lo em um demônio. Na trama, o "mal" (aqui em sentido literal) infecta os habitantes como uma doença que se espalha pela população. Quando o cineasta se mudou para um município interiorano, percebeu que a paisagem e o cenário eram os elementos que faltavam para completar o roteiro.
As cidades em regiões mais afastadas, como a do filme, têm mais dificuldade para combater possessões demoníacas, pensa Rugna. Para o profissional, a maioria das histórias de terror do tipo são ambientadas em mansões ou áreas onde é possível encontrar ajuda, como perto de igrejas. São poucos os filmes que mostram esse tipo de premissa em cidades pequenas.
— Quando eu resolvi fazer um filme sobre exorcismo, pensei: "Tudo bem, mas o que aconteceria se as pessoas não conseguissem encontrar um padre?" Todos os filmes de exorcismo acontecem em uma cidade grande, em uma mansão. Mas o que acontece se eles estiverem no meio do nada, em uma casa pobre e em um local onde ninguém se importa? Até o dono das terras quer se livrar deles. Isso acontece no meu país o tempo todo. Os demônios não, mas todo o resto sim — questionou o diretor.