Nem a temerosa chuva que voltou ao Estado neste sábado (15) afastou o público da penúltima noite da mostra Ao Sentido Comunitário, promovida pela Cinemateca Capitólio. E o objetivo dos espectadores que foram ao espaço cultural, além de assistir a um bom filme, era o de ajudar o setor audiovisual.
Afinal, tanto a programação especial quanto as demais exibições do mês de junho do local terão as verbas destinadas para o Futuro Audiovisual RS. A iniciativa reúne os principais agentes do setor do Estado em um movimento de apoio a centenas de profissionais que foram impactados pela enchente.
A mostra marcou a retomada da programação da Cinemateca Capitólio, em 30 de maio. Foram selecionados 19 filmes produzidos entre os anos 1930 e 2020, que apresentam narrativas da vida partilhada em comunidades formadas em diferentes contextos.
Dentro desta iniciativa solidária, na noite deste sábado, foi exibido o documentário Campo Grande é o Céu (2022), de Bruna Giuliatti, Jhonatan Gomes e Sérgio Guidoux, que joga luz na tradição de cantoria na comunidade quilombola de Mostardas. E, para prestigiar essa sessão especial, estava Marcela Pataro, 42 anos, servidora pública.
Ela, que é baiana e moradora de Santa Catarina, está no Rio Grande do Sul com uma ação social para entregas de cestas básicas para as comunidades quilombolas, se interessou pela programação da Cinemateca Capitólio. Saber que a sessão fazia parte de um projeto maior só colaborou para a deixar mais empolgada e dar uma chance ao documentário:
— A iniciativa é muito importante, é casar a arte com a demanda social. Então, acho que é bem válido. Na sociedade em geral, a gente costuma ver as diversas expressões artísticas como uma coisa, digamos assim, supérflua. Então, em um momento como este, em uma situação emergencial, parece que a gente precisa garantir o básico, mas a arte é tão importante quanto.
Também estava no local um dos diretores de Campo Grande é o Céu, Jhonatan Gomes, que celebra iniciativa da Cinemateca Capitólio, relembrando que a cultura é o primeiro setor que tem as verbas cortadas durante momentos de crise e sendo um dos últimos a conseguir voltar a atuar plenamente.
— Movimentos como este ainda oxigenam a arte e a cultura e dão este apoio que são de extrema importância neste momento. A gente ficou um mês envolvido com tragédia e, nestes momentos, como a mostra, a gente pode espairecer e aprender coisas novas. É importante esta volta. Isto beneficia o artista e o público — conta o cineasta.
E, enquanto Campo Grande é o Céu foi o penúltimo filme da mostra, no domingo (16), às 18h30min, será exibido A Transformação de Canuto (2023), de Ariel Kuaray Ortega e Ernesto de Carvalho, que encerra o projeto. A obra narra a criação de um filme sobre a história de um homem que virou onça na comunidade Mbyá-Guarani.
Para o programador da Cinemateca Capitólio, Leonardo Bomfim, o espaço, durante a enchente, reuniu os moradores do entorno e o público fiel do local, aguçando o senso de comunidade de todos. Dessa forma, foi natural que a mostra que marcasse o retorno da programação do espaço tivesse justamente esta temática, assim como colaborar com o setor.
— Como a Cinemateca tem uma ligação umbilical com estas entidades do audiovisual do Rio Grande do Sul, neste momento, em que a gente sabe que pessoas do cinema perderam tudo, como há esta iniciativa, que é o Futuro Audiovisual RS, que é vinculada com todas as entidades do cinema do Estado, a gente pensou que seria legal destinar toda a renda de junho a este projeto — explica Bomfim.