A cinéfila mais pop do Brasil, atualmente, atende pelo nome de Fernanda Bande. Modelo, confeiteira e ex-participante do Big Brother Brasil 24, ela demonstrou toda a sua bagagem cinematográfica ao fazer referências a diversos filmes durante o reality show. E não demorou para que as icônicas frases dela fossem usadas para avaliar longas-metragens na rede social da sétima arte mais famosa do mundo no momento, o Letterboxd.
Inclusive, o discurso que a ex-sister deu para Beatriz, usando 127 Horas (2010) como referência, já está completo em diversas avaliações na plataforma sobre o título. Embarcando no hype, a própria Fernanda entrou para a rede social destinada aos amantes do cinema, que tem um grande apelo entre o público mais jovem — mais da metade tem menos de 35 anos. Mas, afinal, o que é esse tal de Letterboxd?
Criada em 2011 pela dupla neozelandesa de web designers Matthew Buchanan e Karl von Randow, a plataforma veio lentamente ganhando popularidade ao longo dos anos, chegando ao número de 1,8 milhão de usuários em março de 2020. Durante a pandemia, tudo mudou. A rede social viu seus números subirem vertiginosamente e, hoje em dia, conta com 10 milhões de cinéfilos unidos na arte de avaliar filmes, dando estrelinhas — de meia até cinco — e escrevendo resenhas.
Além disso, na plataforma é possível seguir e ser seguido por outros usuários, fazer comentários nas avaliações das pessoas e criar listas de longas-metragens, que podem ser desde os filmes mais esperados, passando por aqueles que não se recomenda a ninguém, até os favoritos — a imaginação é livre. E, por falar em preferidos, o usuário pode colocar em destaque em seu perfil os quatro longas de que mais gosta, que servem como uma carta de apresentação para os visitantes.
É bem completa e tem um acervo gigantesco de obras de todas as épocas. Tudo isso valorizou a plataforma, que teve uma fatia majoritária sua vendida em setembro de 2023 para a Tiny, uma espécie de holding de pequenos negócios digitais com sede no Canadá, por US$ 50 milhões. Porém, os criadores do Letterboxd, Buchanan e Randow, seguirão como acionistas e não pretendem abandonar o projeto tão cedo. Para o futuro, séries de TV devem ter o seu espaço na rede social — as minisséries já podem ser avaliadas.
Debates respeitosos são ponto positivo
Rodrigo Boff Machado, 22 anos, é usuário do Letterboxd desde o começo de 2022. Após instalar o aplicativo, ele e a irmã, Gabriela, passaram uma madrugada dando notas e fazendo resenhas dos filmes que já tinham visto. Depois disso, o jovem estudante de Publicidade e Propaganda de Caxias do Sul nunca mais deixou de marcar os títulos assistidos na ferramenta.
— Sempre gostei muito de assistir a filmes e, com a ferramenta, posso dar os meus pitacos. Nos sites e nas colunas de jornais, a gente sempre lê a opinião dos outros. Com o Letterboxd, não precisa ser crítico de cinema para poder dar a sua opinião — salienta Machado.
Uma questão que o estudante ressalta é que as interações na plataforma são saudáveis, e os debates, que ocorrem nos comentários das resenhas, são sempre respeitosos, ao contrário de outras redes sociais, em que há julgamentos caso a opinião sobre determinado filme seja discordante da maioria:
— É um ambiente civilizado e acho interessante o fato de que a rede vem crescendo. Além de ser algo divertido, já que todo mundo gosta de ver filmes e falar sobre eles, ainda incentiva as pessoas a assistir a mais filmes, o que é importante nos dias de hoje, em que as pessoas estão se acostumando aos conteúdos de dois minutos do TikTok.
Morador de Alvorada, Daniel Rodrigues, 30 anos, trabalha como editor de vídeos e está presente no Letterboxd desde 2016, quando a plataforma ainda não era tão famosa no Brasil — hoje, já existem bonés, camisetas e ecobags sendo vendidos com os dizeres "Fiscalização Letterboxd", uma referência compreendida somente por cinéfilos.
Rodrigues relembra que, antes de entrar na plataforma, usava as redes sociais para listar os filmes a que tinha assistido, fazendo álbuns com os cartazes e escrevendo a sua opinião nas legendas. Com a descoberta da ferramenta, transferiu tudo para o novo ambiente, que tem justamente esta finalidade. Ele também conta que incentiva vários amigos a seguir o mesmo caminho.
— A principal função, para mim, é a de ser um diário para marcar o filme a que eu assisti em determinada data. Assim, dá para saber quando eu vi e voltar lá ao reassistir ao filme para ler a minha opinião anos depois, com outra bagagem. É uma cápsula do tempo. E o mais legal é que tem de tudo: desde gente que usa para treinar a escrita, com críticas aprofundadas, até gente que faz uma resenha de uma linha com uma piada — conta o editor de vídeo.
As piadas, realmente, são boas. Uma das "críticas" que viraram meme no Brasil foi uma do filme Coringa (2019) feita por um usuário chamado Fernandes. Escreveu uma simples frase, sem muito cuidado com o português e com um timing perfeito de humor: "Um vei desse fazendo bagunça na cidade". Foi o suficiente para se tornar uma das queridinhas da plataforma. Mas, claro, existem muitos textos elaborados e sérios dividindo o espaço, todos convivendo em harmonia.
Celebridades também viraram usuárias
Enquanto no Brasil Fernanda Bande, de maneira bem-humorada, é um dos grandes nomes atrelados ao Letterboxd, no mundo o mais famoso expoente é o cineasta Martin Scorsese, que entrou na plataforma em outubro do ano passado e é a principal celebridade do espaço virtual, somando mais de 360 mil seguidores.
No aplicativo, o lendário diretor fez algumas listas, sendo uma delas com títulos que serviram como uma espécie de inspiração para a sua filmografia. Neste tópico, Scorsese colocou nada menos do que 59 longas, como Rio Vermelho (1948) e Sindicato de Ladrões (1954). O cineasta, porém, não costuma dar notas ou fazer resenhas dos filmes a que assiste.
Outros nomes importantes do audiovisual também marcam presença no Letterboxd, como o cineasta brasileiro Kleber Mendonça Filho, que colocou Cabra Marcado para Morrer (1984) como um de seus longas favoritos — ao contrário de Scorsese, o diretor pernambucano costuma fazer breves resenhas.
Ayo Edebiri, a Sydney Adamu da série O Urso (2022-atualmente), também gosta de escrever sobre as obras que prestigia, mas com humor. As resenhas cheias de personalidade da premiada atriz vêm conquistando multidões e, atualmente, ela já tem mais de 330 mil seguidores — chegando perto do diretor de Assassinos da Lua das Flores (2023).
Plataforma tem modalidades gratuita e pagas
Sim, o Letterboxd é gratuito. Basta fazer um login e aproveitar diversas funcionalidades da plataforma. Entretanto, se o usuário quiser dar um passo a mais na cinefilia, a rede social oferece duas modalidades pagas, que possibilitam algumas outras ferramentas.
A mais em conta é a versão Pro, que custa R$ 49 anuais. Com ela, é possível mudar o nome do usuário, receber alertas quando filmes listados chegarem a um serviço de streaming e acessar estatísticas detalhadas sobre o perfil de consumo do titular.
A mais cara das modalidades é o Patron, que tem valor de R$ 150 ao ano. O usuário tem direito a todos os serviços do Pro, além da possibilidade de personalizar os cartazes dos filmes assistidos, além de ter acesso antecipado a ferramentas-teste da plataforma.
A rede social também faz dinheiro comercializando espaços de publicidade e, com isso, paga uma pequena equipe de jornalistas que produz podcasts e cobre eventos do setor de entretenimento. No total, são quase 30 funcionários mantendo o Letterboxd funcionando para que 10 milhões de cinéfilos tenham um refúgio na internet.
O Letterboxd pode ser acessado pelo site ou pelo aplicativo, que está disponível para Android e iOS.