Conectando Porto Alegre e Croácia, Depois de Ser Cinza estreia nos cinemas nesta quinta-feira (3). O longa foi filmado em 2017, circulou por festivais a partir de 2020 e só agora chega ao público. No entanto, sua história retratando angústias e transformações segue com frescor.
Depois de Ser Cinza é dirigido por Eduardo Wannmacher, que estreia no comando de um longa de ficção. Professor de cinema da PUCRS, o cineasta até então havia trabalhado na ficção com curtas e séries de TV, como Para que Servem os Homens (2014). Ele foi convidado para dirigir o longa pelo produtor, Frederico Mendina, que o apresentou ao roteiro escrito por Leo Garcia. Para Wannmacher, o texto lhe chamou atenção por carregar uma "grandiosidade narrativa", amparada pela intensidade dos personagens.
O filme é costurado pelo ponto de vista de três mulheres — Isabel (Elisa Volpatto), Suzy (Branca Messina) e Manuela (Silvia Lourenço) —, que se envolvem com o antropólogo Raul (João Campos). Há duas linhas temporais no longa: uma na Croácia, em ritmo de road movie, e outra que segue os acontecimentos do passado de Raul em Porto Alegre.
No país balcânico, o antropólogo busca realizar um trajeto até Dubrovnik, mas, pelo caminho, conhece Isabel — uma brasileira radicada na Croácia que está saindo de um relacionamento. Ela pede carona a Raul e passa a acompanhá-lo pela estrada. Introvertido, dilacerado internamente e transparecendo um sentimento de culpa, o sujeito pouco fala sobre si ou sua motivação para a viagem.
Já no passado porto-alegrense, acompanhamos a paixão platônica do antropólogo pela amiga Suzy, com os dois compartilhando noitadas boêmias. Há também Manuela, uma solitária psicóloga, que passa a atender Raul. Entre as mulheres e o rapaz, restaram fissuras e rastros de angústia. O diretor ressalta que há significativas diferenças entre as personagens femininas do filme.
— Suzy é a mais selvagem, a Branca inseriu muita energia nela — observa. — Elisa criou uma intensidade diferente para a Isabel, que tem muito a ver com o estar em trânsito, tentando se reencontrar. E tem algo muito particular na Manuela pelo trabalho da Silvia, que chegou muito pronta ao filme, com o conceito da psicologia.
Wannmacher sublinha que Depois de Ser Cinza é uma história que envolve uma trajetória emocional densa de cada um com suas perdas e ausências. Um filme que tem mais densidade do que momentos leves, mas que, essencialmente, retrata a transformação das pessoas e o movimento que elas fazem ao longo da vida, que acaba criando mudanças geográficas, emocionais e profissionais.
— Apesar de ser um drama de amor, para mim, é um longa que reflete sobre as escolhas individuais e as transformações dos protagonistas — diz o diretor. — É um filme de transformação para mim.
Tempo de produção
Depois de Ser Cinza começou a se solidificar em 2009, quando seu projeto foi contemplado no Prêmio Santander para desenvolvimento de longas-metragens. Desde o primeiro tratamento de roteiro, a Croácia estava na mira, especialmente para trazer a ideia de necessidade de deslocamento para um lugar distante do Brasil. Em 2010, Leo Garcia passou uma temporada no país mapeando locações, mas as filmagens só foram ocorrer em 2017. A produção chegou aos festivais apenas em 2020.
Conforme o diretor, o projeto enfrentou atrasos na aprovação de verbas em todas as fases, além da pandemia. No entanto, ele frisa que a história de Depois de Ser Cinza é atemporal.
— Poderia ter sido exibido há cinco anos, assim como poderia sair daqui a um tempo. É um filme sobre uma questão contemporânea, que são esses movimentos constantes que as pessoas fazem — conclui.