— Está na hora da surra natalina.
Esta não é uma frase que alguém imagina o Papai Noel dizendo. Mas é nesse pique que o bom velhinho interpretado por David Harbour entra em campo em Noite Infeliz, filme que chega aos cinemas nacionais nesta quinta-feira (1º), imaginando um Natal violento, com trocas de porradas ao invés de presentes. E, com isso, garante a diversão de quem for assistir ao longa.
Na trama, Harbour realmente dá vida ao São Nicolau, o velhinho que na madrugada do dia 25 de dezembro sai por aí voando em um trenó e distribuindo presentes para as crianças que foram boazinhas durante o ano. Porém, neste Natal, o Papai Noel está descontente, decepcionado com os pequenos que só pensam no consumo. Assim, ele afoga as mágoas em bebidas alcóolicas e já projeta abandonar o seu posto no futuro.
Mesmo assim, ele segue com as suas entregas, até que, durante sua visita à casa dos Lightstone, o Papai Noel se vê no meio de um sequestro, com um grupo de mercenários querendo o dinheiro da poderosa família e colocando em risco a pequena Trudy (Leah Brady) — e é por causa dela que o Santa Claus decide arregaçar as mangas, pegar uma marreta, tirar o cabelo dos olhos com um coque samurai e cair na porrada contra os bandidos.
Dirigido por Tommy Wirkola (de João e Maria: Caçadores de Monstros) em cima de um roteiro escrito por Pat Casey e Josh Miller (dupla da franquia Sonic), o filme, não recomendado para menores de 16 anos, não economiza no gore, mostrando o bom velhinho eliminando os seus adversários de maneiras brutais — tal qual faz Keanu Reeves com seu John Wick.
Mas as referências não ficam apenas na franquia do homem que derrota um exército por conta da morte do seu cachorrinho. Noite Infeliz também apresenta momentos tirados diretamente de Esqueceram de Mim, com Trudy montando armadilhas para pegar os bandidos que invadiram a casa de sua família — apesar de o final deles não ser tão simplesmente com alguns hematomas como nos longas protagonizados por Macaulay Culkin.
Carisma
Esta não é a primeira vez que um filme traz um bom velhinho não tão bonzinho assim. Em 2020, por exemplo, foi lançado Entre Armas e Brinquedos, com Mel Gibson vivendo o personagem pouco ortodoxo. No começo do século, em 2003, Billy Bob Thornton protagonizou Papai Noel às Avessas, interpretando um vigarista que se veste de São Nicolau para assaltar lojas em plenas festas de fim de ano — até que encontra o verdadeiro espírito de Natal.
O diferencial de Noite Infeliz, então, é realmente a violência empregada para contar a história e, claro, o carisma de David Harbour (o xerife Hopper, de Stranger Things). E o filme é todo pensado para o artista brilhar, com ele mesclando resquícios da aura de Papai Noel, com a desilusão do mundo corrompido, indo para o tudo ou nada na hora que resolve comprar a briga na casa dos Lightstone.
Harbour, vivendo fora da realidade dos artistas marombas, não é um herói de ação convencional da sétima arte. E, assim, ele aplica a sua fisicalidade para construir o seu Santa Claus, que anda de forma pesada, sem ser discreto — até porque se veste de vermelho — e não é veloz. Os embates dos quais participa, então, são na base da força bruta, sem grandes acrobacias, apesar de todas as sequências de ação serem muito bem coreografadas.
O protagonista, por sinal, é o único que recebe mais camadas para trabalhar com seu personagem, enquanto os coadjuvantes são unidimensionais — por mais que John Leguizamo esteja sempre bem em cena, o seu vilão Scrooge não sai do básico. Tal escolha de roteiro, porém, não atrapalha a trama, até porque todo o elenco funciona dentro de seus limites e entrega o suporte para Harbour ser a grande estrela — é uma estrela, por sinal, a responsável por uma das melhores mortes da produção.
O único problema de Noite Infeliz é, de fato, a repetição. Depois de uma divertida introdução em um pub na Inglaterra, o roteiro já coloca o Papai Noel dentro da casa dos Lightstone e, a partir disso, a trama pouco se oxigena. É a família e o São Nicolau contra os bandidos por quase todos os 101 minutos de duração, o que deixa a produção com aspecto de ser muito maior do que realmente é, podendo cansar.
Ainda assim, para quem quer fugir das incontáveis produções de Natal água com açúcar da Netflix — o que não é demérito algum, vale ressaltar — e mergulhar em sequências de ação e muito sangue, Noite Infeliz, certamente, é a pedida para o fim de ano. O que não dá mesmo é para levar as crianças, porque esse Papai Noel esmagando crânios com uma marreta poderia dar pesadelos nos pequenos. Mas, para os adultos que buscam apenas boas risadas, os seus pedidos deverão ser atendidos.