O final de ano vai ser especial para os fãs de ficção científica. Em 16 de dezembro, a franquia que foi um marco na virada do milênio ganhará um novo capítulo, 18 anos depois. Matrix Resurrections trará de volta Neo/Thomas Anderson (Keanu Reeves) em uma nova aventura para libertar os humanos do domínio das máquinas.
Apesar de parte do público ter uma certa desconfiança em relação ao novo filme, uma vez que a trilogia havia sido fechada de maneira satisfatória, bastou o primeiro trailer da produção ser lançado para que a internet ficasse em polvorosa. Afinal, o herói da franquia estava de volta e muitos mistérios envolvendo a história foram lançados nos dois minutos e 52 segundos de duração da prévia.
Fazendo um "aquece" para Matrix Resurrections, GZH preparou uma recapitulação da história apresentada até aqui e, também, alguns pontos que podem ter passado batido no trailer para que você vá para o cinema sabendo tudo sobre a franquia.
A trilogia
No primeiro filme, Thomas Anderson é um programador e hacker que, navegando pela internet, acaba deparando com a possibilidade da existência da Matrix. Ao ser resgatado pela equipe de Morpheus das mãos de agentes que o perseguiam, o protagonista descobre que a realidade conhecida por ele — e por todos que ele conhecia — é, na verdade, uma simulação virtual.
E como isso aconteceu? Bem, anos antes, as máquinas se tornaram conscientes e a humanidade entrou em guerra com elas. Para vencer, os seres humanos tentaram preencher o céu com nuvens negras para bloquear o acesso das máquinas à sua principal fonte de energia. Obviamente, o plano deu muito errado e os humanos foram quase que totalmente dominados e passaram a ser cultivados pelas máquinas em grandes campos, servindo como fonte de energia para elas.
Enquanto têm sua força drenada, os humanos, adormecidos, vivem na simulação, a Matrix. Neo é um dos poucos que acordam e, segundo Morpheus, ele é O Escolhido, a figura messiânica que vai libertar a humanidade. Assim, ao longo dos três filmes, o protagonista percorre o caminho para salvar a todos — e derrotar o Agente Smith, um vírus inteligente que pretende manter os humanos sob o domínio das máquinas.
No final do terceiro filme, Matrix Revolutions, o conflito entre o herói e o vilão acaba mal para os dois. Neo entende que Smith só pode ser derrotado com seu sacrifício e, assim, permite que o malvadão o absorva. No mundo real, Neo não resiste aos ferimentos e acaba morrendo. Ele, então, é levado à Cidade das Máquinas e, após ser estabelecido como O Salvador, aparentemente transcende para uma existência além das formas físicas. A conclusão, que emprega um simbolismo budista, deixa subentendido que Neo chegou ao chamado Satori, ou seja, um estado de iluminação.
— Neste ponto da história, Neo está à beira do Satori, pronto para resolver o paradoxo da escolha e da falta de escolha, do livre-arbítrio contra o destino, mas isso só pode ser alcançado por meio de um ato de rendição, que só ocorre após ele ter abandonado a natureza perspectiva da verdade, aceitando a totalidade da consciência presente — desse a diretora Lana Wachowski em entrevista ao ScreenRant.
Ao final do filme, mesmo com o sacrifício de Neo, a porta para um retorno fica aberta, já que a Oráculo diz que ainda espera ver O Escolhido novamente.
Vale lembrar que, em Matrix Reloaded, Neo conhece o Arquiteto, responsável pela criação da Matrix. O personagem explica que o sistema está em sua sexta versão, e que em cada versão, uma anomalia no código sempre acaba aparecendo. Essa anomalia é justamente O Escolhido.
Dessa forma, o Neo que conhecemos é a sexta encarnação dessa figura. As versões anteriores do personagem não foram apresentadas e não se sabe se todas elas tinham a mesma aparência. Como Morpheus será interpretado por um ator diferente, mais jovem, em Resurrections, o retorno de Keanu Reeves pode ser como o sexto Neo, já conhecido por fãs da franquia. Mesmo assim, ainda existe a possibilidade de ser outra encarnação do personagem.
De volta a Matrix
O primeiro trailer de Matrix Resurrections indica que a produção será próxima de uma releitura do filme original, já que várias cenas fazem referência a momentos que o protagonista viveu no longa de 1999, como a cena do gato preto logo no começo. Lá, ele passa por uma situação de déjà vu ao ver um gato preto passar e se sacudir. Em seguida, outro passa e faz o mesmo movimento. Dentro do universo de Matrix, os déjà vus são considerados erros, já que a repetição de um evento exatamente igual significa que o código da simulação foi modificado.
Após a morte de Neo em Revolutions, a grande questão do novo Matrix é responder como o personagem voltou e o que aconteceu após o seu grande sacrifício. Ao falar com seu terapeuta, interpretado por Neil Patrick Harris (How I Met Your Mother), o herói tem flashes de memória que parecem ser dos filmes anteriores, mas também do que teria acontecido a ele após seu corpo ser levado pelas máquinas.
Um dos momentos que deixou os fãs com dúvidas que levam a perguntar se Reeves está interpretando uma variação de seu personagem é quando ele encontra a personagem de Carrie-Anne Moss, a Trinity. Eles parecem não se reconhecer quando se encontram e apertam as mãos em um café. Pode ser que sejam novas versões de ambos. Ou só dela. Ou só dele. Ou de nenhum.
Além da questão das versões, Thomas Anderson/Neo pode estar tentando bloquear as memórias do homem messiânico que ele foi ingerindo as famosas pílulas azuis, que permitem retornar ao seu estado de dormência e continuar dentro da existência simulada, controlada pelas máquinas.
Mas por que voltar?
A tecnologia deu um salto gigantesco nestes 22 anos que separam o primeiro Matrix de Resurrections e, com isso, as pessoas se tornaram muito mais conectadas do que em 1999, utilizando os seus smartphones como extensões de si mesmas e jamais desgrudando os olhos de telas. Assim, a franquia encontrou novamente um ambiente para se tornar relevante.
Com a realidade atual, temas como vício em tecnologia ou o efeito de redes sociais na saúde mental dos usuários podem ser pano de fundo para uma história em que a humanidade é controlada por máquinas. E, com vidas montadas para serem expostas na internet, a questão sobre o que, afinal, é real, torna-se ainda mais latente.
Vale ressaltar que tem uma cena do trailer de Resurrections na qual Neo entra em um elevador e todos que estão no espaço estão com a cabeça baixa, vidradas no celular, com uma luz azul em seus rostos. E, como sabemos, a pílula azul é justamente aquela que deixa as pessoas adormecidas dentro da realidade simulada.
Além disso, a pós-verdade, termo cunhado para designar que as pessoas estão mais propensas a acreditar naquilo que é mais confortável para elas, que vai ao encontro de suas crenças, mesmo que ignorando os fatos, também surgiu nos últimos anos, conversando diretamente com o conceito da franquia.
E, claro, ainda temos os algoritmos trabalhando com força, definindo o que as pessoas vão ver, gostar ou desgostar, algo que Matrix já previa que aconteceria antes dos anos 2000. As possibilidades para o novo filme são tão grandes quanto a vastidão da internet. Resta esperar até 16 de dezembro e ir ao cinema escolher entre a pílula azul e a vermelha.