Quando Space Jam: O Jogo do Século surgiu em 1996, foi um tiro certeiro para o público infanto-juvenil. Afinal, reunia os Looney Tunes (Pernalonga e sua turma), Michael Jordan dominando na NBA, astros da liga (Charles Barkley e Patrick Ewing) e uma música-tema cativante do Quad City DJ’s (“Come on and slam, and welcome to the jam”). Visto em retrospecto, o filme é bisonho: há uma hipersexualização de uma coelha animada, Lola Bunny, e incoerências de roteiro aquém da suspensão de realidade do espectador.
De qualquer forma, o filme tinha seu carisma e marcou a infância de uma geração. Seja pelo valor afetivo ou para reciclar uma história conhecida para um novo público, o longa ganhou sua sequência. Space Jam: Um Novo Legado estreia nesta quinta-feira (15) nos cinemas. Michael Jordan não é a estrela da vez, cedendo o protagonismo a LeBron James.
Atual jogador dos Los Angeles Lakers, LeBron foi quatro vezes campeão da NBA, quatro vezes eleito o jogador mais valioso da temporada regular e quatro vezes o melhor jogador das finais, entre outros recordes. Aos 36 anos, o astro já coleciona participações em séries (Eu, A Patroa e As Crianças) e filmes (Descompensada), mas é a primeira vez que protagoniza um longa.
Dirigido por Malcolm D. Lee (Todo Mundo em Pânico 5), Um Novo Legado combina animação e live-action assim como o antecessor. Lebron interpreta um pai exigente, que anseia que seus filhos se tornem lendas do basquete assim como ele, condicionando o treinamento duro à frente da diversão para os pimpolhos. Seu filho do meio, Dom James (Cedric Joe), pensa diferente. O adolescente é um talento precoce na programação e desenvolvimento de games. Ele até gosta de basquete, mas prefere a versão virtual do esporte em que está trabalhando.
Em uma reunião de negócios dos estúdios da Warner Bros., à qual Lebron levou Dom porque envolveria tecnologia, pai e filho são aprisionados em um espaço digital por uma inteligência artificial chamada Al-G Rhythm (Don Cheadle). Eles são digitalizados e transportados para o WB Serververse, um ambiente virtual onde vivem personagens da empresa — que vão de Harry Potter a Game of Thrones, do universo DC a Scooby Doo, sem esquecer dos Looney Tunes.
Pai e filho são separados: Dom é seduzido pelo algoritmo para enfrentar seu pai em uma partida de basquete e provar sua capacidade. Para formar seu time virtual, a inteligência utiliza dados de jogadores da NBA e da WNBA que o jovem coletou anteriormente para seu game: Anthony Davis, Damian Lillard, Klay Thompson, Nneka Ogwumike e Diana Taurasi. Formam-se versões monstruosas desses atletas para o time chamado Goon Squad. O próprio Dom com talentos turbinados integra a equipe.
Vaidoso, Al-G Rhythm força a realização desse confronto contra LeBron simplesmente para lançar-se ao mundo e ser conhecido. Sim, toda essa mão por isso. Era mais fácil elaborar um algoritmo para o marketing, mas tudo bem.
Enquanto isso, LeBron vai parar no mundo dos Looney Tunes. Aqui, ele vira animação durante uma parte do filme, integrando-se à comédia física que pouco Jordan abraçou no longa dos anos 1990. O local é habitado apenas por Pernalonga. Os outros personagens debandaram dali, indo viver em outras atrações da Warner. Então, o coelho e o astro da NBA partem pelo Serververse para recrutar a velha turma para uma nova partida. Vale destacar que as cenas de crossovers dos Looney Tunes com outras produções do cinema e da TV são impagáveis, um dos melhores momentos do filme. Por fim, além de vencer o jogo para sair dali, LeBron espera reconstruir a relação com seu filho.
Piadas
O longa realiza uma exaltação a LeBron nos primeiros 20 minutos, mas a seguir se torna um grande infomercial sobre o catálogo da Warner, seja em aparições de personagens ou em citações de obras. Embora o serviço não seja mencionado no filme, soa às vezes como uma promoção oculta da HBO Max.
Um Novo Legado é uma comédia pirada, de fato. Afinal, são personagens de desenhos animados em ação que já são “lunáticos” em essência. LeBron ri de si mesmo, há várias piadas envolvendo sua trajetória. Há momentos engraçadíssimos — aliás, sem dar spoiler, destaque para uma das melhores gags deste ano, que menciona um personagem do primeiro Space Jam.
No geral, trata-se de um filme divertido e até com um ritmo melhor do que o original. Felizmente, desta vez não há uma Lola Bunny (dublada na versão americana por Zendaya) hipersexualizada. Também aproveitando a evolução do tempo, o design dos personagens foi melhorado, mantendo suas principais características.
É um filme familiar em que os pontos positivos podem se sobrepor, caso o espectador ignore a prateleira da Warner em que tentaram transformar o novo Space Jam.