Em 2023, Novo Hamburgo se verá nas telas do cinema. A história do desenvolvimento da cidade da Região Metropolitana será contada no longa-metragem Espiral, que fará um recorte de três décadas do município, abordando o papel da indústria calçadista local a partir da trajetória ficcional de quatro membros de uma família.
De acordo com o diretor da produção, Leonardo Peixoto, a ideia é mostrar o desenvolvimento urbano e social da cidade do Vale do Sinos com destaque para a economia baseada na indústria do calçado. Peixoto, que também é produtor, roteirista e morador do município, explica que o filme terá locações em alguns pontos tradicionais de Novo Hamburgo, como o Morro dos Papagaios e a zona rural de Lomba Grande.
— Sou pelotense, mas me mudei para Novo Hamburgo há 20 anos. Só saí para fazer a faculdade de Cinema e voltei assim que terminei. Já fiz um documentário sobre a cidade, então, faz parte da minha vida. Quero falar da minha própria aldeia para falar para o mundo — conta o cineasta.
Preparativos
A produção de Espiral já começou. O anúncio do filme ocorreu no último mês, em um evento virtual para os moradores e personalidades de Novo Hamburgo. Na ocasião, o Secretário municipal de Cultura da cidade, Ralfe Cardoso, celebrou a iniciativa e disse que espera que, a partir deste projeto, o município passe a ter uma relação mais próxima com a arte.
— Queremos posicionar Novo Hamburgo como uma cidade que é polo criativo e cultural, onde há coisas interessantes acontecendo — comentou.
O filme, que terá um orçamento de R$ 500 mil — valor modesto para um longa-metragem, mas suficiente para fazer com que toda a equipe abraçasse o desafio com entusiasmo —, conquistados a partir de um edital da Ancine, será desenvolvido pelas produtoras de cinema Bactéria Filmes, de Daniela Israel; Sala Filmes, de Freddy Paz; e Convergência Produtora, do próprio Leonardo Peixoto.
Com planejamento para começar a ser rodado apenas no próximo ano, a primeira estrela da produção já foi escalada: Manu Morelli, jovem atriz que está no elenco da série Onde Está Meu Coração, do Globoplay, além de ter sido escolhida para ser uma das protagonistas da nova temporada de Malhação, que teve as suas gravações interrompidas por conta da pandemia de coronavírus.
E a relação entre a artista e o diretor vem de tempos. Ela foi a protagonista de seu primeiro filme de ficção, um curta-metragem que Peixoto gravou ainda na faculdade, quando Manu tinha apenas oito anos. Depois, ela esteve, aos 11, em outro projeto seu, Maria Clara, que foi exibido no Festival de Mar del Plata e na Bienal de Curitiba.
— Eu lembro que, durante a gravação de Maria Clara, eu brinquei com a Manu, dizendo que ia ir envelhecendo as minhas protagonistas para ela continuar fazendo os meus filmes. Aí, em Espiral, tinha um personagem da idade dela. Na hora, liguei, ofereci o papel e ela topou. É um grande talento — elogia Peixoto.
Além de Manu — que, assim como o diretor, é pelotense –, Espiral deve trazer, também, talentos da própria Novo Hamburgo. O restante do elenco que vai compor a obra será uma mistura de convites e seleção, com a realização de testes com atores e profissionais do audiovisual do município.
— Quanto mais profissionais da cidade a gente conseguir colocar no time, melhor — enfatiza o diretor.
A crise que vira filme
O projeto inicial de Leonardo Peixoto era um curta-metragem que se chamava Almoço. A produção, no entanto, poderia se passar em qualquer lugar, pois consistia em acompanhar a tradicional refeição que daria título ao filme de uma família. Neste projeto, o cineasta pretendia realizar experimentações de linguagem cinematográfica. Inclusive, a ideia dele era inserir, em determinadas cenas, o mesmo personagem em diferentes idades.
Porém, com a possibilidade de dirigir, escrever e produzir um longa-metragem, o seu grande objetivo desde que enveredou para a área do audiovisual, Peixoto reformulou a sua ideia e decidiu ampliar essa experimentação, que agora está inserida no roteiro de Espiral. Ou seja, o longa-metragem sobre Novo Hamburgo contará com uma narrativa temporal diferente da convencional, mas sem deixar de pontuar os momentos históricos do desenvolvimento da cidade.
— A gente vai falar de Novo Hamburgo, de uma família daqui que vai viver a crise calçadista, mas que tem relação com a globalização e com o mercado internacional. É um drama familiar que se entrelaça muito com a história da cidade e todas as suas movimentações, com muito dinheiro, com pouco dinheiro, e isso tudo vai se cruzando — destaca Peixoto.
Espiral ainda não possui um plano de distribuição completo, mas a ideia é começar a construir a carreira do filme, tão logo ele seja concluído, pelo circuito de festivais, caminho tradicional das produções brasileiras. O que é certo é que o tapete vermelho será estendido para Novo Hamburgo desfilar.