Há exatos 10 anos, o grupo caxiense de teatro Ueba Produtos Notáveis participou das gravações do filme O Céu Sobre Mim, do cineasta italiano Gian Vittorio Baldi. O ator Jonas Piccoli lembra que, apesar de muito positiva, a experiência foi trabalhosa por demais:
— Cara, a gente ficou dois dias filmando três minutos de cena. Eu lembro que brinquei na época: "nunca mais quero fazer essa coisa de cinema" (risos) — conta ele, prestes a lançar o primeiro filme realizado pelo grupo Ueba.
Mordendo a língua por uma ótima causa, Jonas é um dos responsáveis pelo média-metragem Fábulas do Sul, que poderá ser conferido a partir deste sábado, às 19h, por meio do canal www.youtube.com/grupoueba. Trata-se de um novo desdobramento para um projeto que teve início ainda em 2018, quando o grupo estreou essa mesma narrativa nos palcos de teatro. Foram mais de 100 apresentações circulando por 80 municípios gaúchos. No ano seguinte, o Fábulas ganhou as páginas dos livros, com um intuito que, de certa forma, acaba também se repetindo agora, em sua versão cinematográfica.
— Tivemos uma fase de transformar tudo em livro porque são fragmentos que tu não vê palco, são outras formas de pensar a história — diz Piccoli.
Fábulas do Sul - O Filme reúne lendas folclóricas muito presentes no imaginário do povo gaúcho, muito em função dos contos de Simões Lopes Neto. Personagens como a Cobra Boitatá, o Negrinho do Pastoreio e a Salamanca do Jarau permeiam as histórias. Piccoli, que foi o autor do livro Fábulas do Sul, conta que o filme também segue a premissa de conceder um novo olhar à cultura local.
— Acho que a cultura gauchesca é muito rígida, tem pessoas que se apropriam e dizem que ela "tem que ser assim". Nosso anseio é contar essas histórias sem aquela rigidez, aquele dramalhão, ou aquela coisa lânguida que parece que se fixou na nossa marca. Quando fomos buscar a oralidade dessas lendas, conversando com historiadores, começamos a ver diferenças nos contares, então entendemos que havia liberdade poética para contar a história da nossa forma _ justifica.
Além de manter o conteúdo das histórias que antes foram para os palcos, o grupo Ueba também achou por bem não mudar muito o tom da interpretação.
— A gente preferiu não abrir mão da nossa interpretação teatral. Mas claro que reduzimos um pouco, até para não deixar o técnico de som surdo. O sussurro, por exemplo, é uma coisa impossível de acontecer (risos), para nós de teatro, não existe — compara.
Para levar Fábulas do Sul para o cinema, o grupo explorou cenários ao ar livre, gravando algumas sequências numa chácara do interior de Caxias, com direito a muitos takes aéreos. Foi lá que um dos personagens que antes aparecia de forma inanimada no palco, ganhou vida.
— Conseguimos uma chácara que tinha um cavalo de verdade. Mas o cavalo que a gente usava na peça, pensamos: “ah coitado, ele não vai ficar de fora”, então colocamos ele ali no cantinho do cenário, quando filmamos cenas no Moinho (da Cascata, sede do Ueba). Acho que a gente sempre acaba trazendo um pouco do teatro para a cena — diz Piccoli.
Financiado pela Lei de Incentivo à Cultura no Rio Grande do Sul (Pró-Cultura RS), Fábulas do Sul - O Filme conta ainda com linguagens como animação e stop motion _ parceria com os artistas Gio e Doug. A trilha foi composta originalmente pelo acordeonista Rafael De Boni. Além de Piccoli, a obra traz atuações de Aline Zilli e Pablo Beluck.
Programe-se
- O quê: lançamento do Fábulas do Sul - O Filme
- Quando: neste sábado, às 19h
- Onde: pelo www.youtube.com/grupoueba
- Quanto: acesso gratuito