Por Camila de Moraes
Cineasta, diretora de "O Caso do Homem Errado", curadora do I Festival Cinema Negro em Ação
Em estado de êxtase, convidamos a todes para acompanhar e fazer parte da concretização de um sonho, a realização da primeira edição do festival Cinema Negro em Ação. Desta sexta-feira, dia 20 de novembro, até o dia 27, o Rio Grande do Sul vai receber todas as regiões brasileiras nesse território quilombista de expressão artística da cultura negra. Este nosso Estado de Oliveira Silveira, do Grupo Palmares, do 20 de novembro, de Maria Conceição Lopes Fontoura, da Maria Mulher. É nesse cenário do Rio Grande do Sul, de tantos profissionais negros e negras, com nome e sobrenome, de instituições importantes para a construção do movimento social negro, que nós permanecemos seguindo os passos dos nossos ancestrais para dar continuidade nesse caminhar. É o Rio Grande do Sul em ação, ou melhor, é o cinema negro em ação.
E pensando que "nossos passos vêm de longe” e com base no ditado africano “é preciso saber de onde se vem para saber aonde se vai”, nesta primeira edição, iremos prestar uma homenagem em vida. Mas é mais que uma homenagem; é, isso sim, um profundo agradecimento a algumas pessoas que dedicam a sua vida à cultura brasileira. Pensando no eixo trajetória no audiovisual, a nossa homenagem vai para o ator gaúcho Sirmar Antunes. Ele representa aquilo que desejamos ser, a criatividade, a superação e o afeto. Faz da arte o seu ofício. Em 50 anos de carreira, já atuou em dezenas de peças teatrais, 18 longas-metragens e mais de 20 curtas.
No eixo ação coletiva, raízes familiares, vamos homenagear a Família Menezzes, que sustenta os sonhos, as gerações que resistem e florescem. É a consolidação de um núcleo artístico e ativista sociocultural existente no país. À mãe Veralinda e ao seus filhos Sheron, Sol e Drayson, a nossa homenagem à essa família que representa muitas famílias.
Agora, no eixo contemporâneo filosófico, a nossa homenagem é para a escritora e filósofa Djamila Ribeiro, por nos ensinar a pensar novas narrativas sobre a contribuição histórica do indivíduo negro para a construção do Brasil e como aplicar conceitos como "lugar de fala" em nossas produções. Nos ensina constantemente a importância de unir pensamentos e práticas. Então, pela existência dessas pessoas e por nos fazerem continuarmos atuantes nesse cenário cultural, acreditando no poder da revolução por meio da arte, segue o nosso profundo e mais sincero agradecimento em forma de homenagem.
O festival também é feito de encontros, e o público vai poder acompanhar bate-papos incríveis com realizadores que estão há muito tempo colocando a mão na massa para produzir suas obras. Dessa necessidade de nos reconhecermos e ficarmos cada vez mais fortes, vamos trocar figurinhas com o coletivo de realizadores negros do audiovisual gaúcho, o Macumba Lab, que vem combatendo o racismo e apontando soluções para que todos possam estar inclusos nesse ambiente. E dialogar com a Família de Rua e profissionais atuantes no setor de videoclipes, fazendo novos elos e conexões. Isso só nos faz pensar que estamos produzindo em todas as frentes com um intelectual criativo imenso associado à uma excelência na qualidade técnica.
É dessa black excellence que estamos falando, é das 309 inscrições que recebemos nessa primeira edição do festival. É constatar que, antes mesmo de iniciar a troca com o público, esse evento já é considerado a maior ação afirmativa do audiovisual gaúcho, e que mesmo assim estamos apresentando uma pequena parcela das produções existentes no cenário brasileiro, pois, neste momento o público terá acesso a apenas 75 produções, entre elas 33 curtas-metragens, seis longas, 19 videoclipes e 17 videoartes, que serão exibidos às 20h, na programação da TVE-RS. Também será possível acompanhar as exibições pela fanpage da Casa de Cultura Mario Quintana e pela plataforma #CulturaEmCasa.
Por fim, a primeira edição do Cinema Negro em Ação brota como uma esperança em nossos corações, como uma estatística de que o audiovisual brasileiro também é composto por realizadores negras e negros. E do Rio Grande do Sul para o mundo, o nosso sonho se concretiza, porque um coletivo se organiza para que isso aconteça, movimenta rios, mares e balança as estruturas para construir de forma sólida a nossa permanência e existência no cenário cinematográfico do país e do mundo. Em nome de Oliveira Silveira e Maria Conceição Lopes Fontoura, meu muito obrigada por abrirem os nossos caminhos. Agora, é chegada a hora de nos reconhecermos nas telas. Uma boa sessão a todes!