O cineasta Kleber Mendonça Filho disse que o cinema do Brasil passa por um processo de sabotagem pelo governo federal. A fala foi feita na manhã desta quinta-feira (20), em encontro do júri com a imprensa no Festival Internacional de Cinema de Berlim, a Berlinale.
O artista disse também que, apesar de viver seu melhor momento — 19 obras audiovisuais do Festival têm produção brasileira —, o cinema do país também vive um período muito difícil.
— Tenho sido muito bem recebido em vários lugares. Nos últimos três anos tenho viajado com meus filmes. Este é o melhor momento do cinema brasileiro em sua história — disse ele, que é um dos membros do júri, presidido pelo ator britânico Jeremy Irons.
— E é quando o cinema é desmantelado diariamente, quando passamos por momentos difíceis, é que é o melhor momento para fazer filmes — afirmou à imprensa internacional, destacando a importância de novos diretores retratarem a realidade atual do país e o drama pelo qual passa a cultura. — Vou continuar a fazer filmes e a dizer o que eu penso.
— Estou preocupado [com a situação do cinema nacional]. Temos cerca de 600 projetos [audiovisuais] que atualmente estão congelados, por burocracia — disse o diretor, em comentário sobre recente declaração do diretor da Berlinale, Carlo Chatrian, de que tem inquietude em relação ao futuro do cinema brasileiro. — Preciso agradecer Carlo, mas ele não é o único [a se preocupar] — completou.
— O cinema brasileiro tem uma longa história, o que acontece agora [a boa fase] é resultado de vários anos de trabalho duro — disse, referindo-se a políticas públicas, sobretudo após o governo Lula, que ajudaram a aumentar a diversidade do cinema nacional, anteriormente relegada aos estados do Sudeste. — É exatamente isso que está sendo sabotado agora. Sim, estou preocupado — concluiu.
O diretor de Bacurau é um dos membros do júri da 70ª edição do evento ao lado de nomes como a franco-argentina Bérenice Béjo, o ator italiano Luca Marinelli e o diretor americano Kenneth Lonergan.