Para 1,4 milhão de porto-alegrenses, existem 71 salas de cinema, indica recente levantamento da Filme B, empresa especializada no mercado cinematográfico. A capital gaúcha, a 12ª cidade mais populosa do país, apresentou em 2019 a oitava melhor média de público por sala: 34.723 espectadores. Em primeiro lugar está São Paulo (41.857), seguida de perto do Rio (41.167). Os dados abrangem o período de 1º de janeiro a 31 de julho de 2019.
Presidente da Federação Nacional das Empresas Exibidoras Cinematográficas (Feneec) e diretor da rede GNC Cinemas, Ricardo Difini Leite avalia essa média de público da Capital como boa em relação ao quadro nacional. Contando com um circuito exibidor que abrange de grandes complexos em shoppings centers a espaços com perfil mais alternativo, o espectador porto-alegrense, de acordo com Difini, apresenta algumas peculiaridades.
– Gosta muito de filme argentino. Os longas do (ator) Ricardo Darín têm uma aceitação incrível aqui. Já escutei da diretora de uma distribuidora que as características do mercado daqui são muito parecidas com as de Buenos Aires. Quando um filme sai lá, já se consegue projetar como pode funcionar em Porto Alegre.
Outra peculiaridade que Difini relata é a boa presença de frequentadores na faixa etária dos 40 anos para cima, que aprecia filmes mais adultos:
– Temos um circuito não só para um público jovem. Em outras praças, predominam os jovens. Aqui, conseguimos ter um público mais variado.
Difini destaca que o GNC Moinhos é um dos complexos com maior frequência de pessoas com mais de 60 anos no Brasil.
– Estimamos que 35% do público é dessa faixa etária.
Para Carlos Schmidt, proprietário do Guion Center, tradicional espaço de exibição na Cidade Baixa que volta e meia abriga fenômenos como o uruguaio O Banheiro do Papa – que teve aqui a melhor performance nacional –, o público da Capital é formado por nichos:
– Está um pouco complicado saber o que esse público gosta. Parasita ganhou o Oscar e bombou. Estamos exibindo ele há 16 semanas. As rendas iniciais beiravam à mediocridade. Com o tempo, começou a crescer no boca a boca. E com a indicação do Oscar, foi catapultado.
Um mito sobre o público local, referente ao pouco apreço às produções brasileiras, não se confirma, segundo Difini:
– Não acho que exista um preconceito ou que seja mais difícil para o porto-alegrense gostar de filme brasileiro. O público da Capital gosta de ver filmes com apelo popular.
Pode-se ilustrar essa observação com o ranking ao lado, enviado a pedido da reportagem pela Filme B, que aponta uma melhor recepção na cidade a comédias como o campeão de bilheteria da temporada, Minha Mãe É uma Peça 3, produções infanto-juvenis, filmes com temática espírita e até mesmo um título com perfil mais autoral, como o premiado e badalado Bacurau.
Mas apenas Minha Mãe É uma Peça 3 mostra força para encarar os filmes estrangeiros, que alcançam desempenhos muito acima do time nacional. O top 10 de público em 2019 no circuito local, por exemplo, lista liderada por Vingadores – Ultimato, O Rei Leão, Coringa, Toy Story 4 e Capitã Marvel, mostra apenas um filme brasileiro, Nada a Perder 2, em 10º lugar. Mas com seus mais de 11 milhões de espectadores acumulados desde 25 de dezembro, e sessões lotadas na Capital, o fenômeno estrelado por Paulo Gustavo vai brigar pelo topo do ranking de 2020.