O dia seguinte ao término do Festival de Cinema de Gramado é de repercussões sobre o protesto organizado por artistas no último dia do evento que desencadeou uma reação inesperada em parte do público que estava em bares e restaurantes da Rua Coberta. Diretores, produtores e atores foram alvo de vaias, palavras de ordem e até pedras de gelo ao atravessar o tapete vermelho em direção ao Palácio dos Festivais durante uma manifestação a favor do cinema e da arte.
Um dos participantes da manifestação era o diretor porto-alegrense Emiliano Cunha, que classificou a atitude do público como "reativa, triste e desesperançosa". Em entrevista ao Timeline Gaúcha, o cineasta disse que não esperava que a situação chegasse a esse ponto.
— Eu estava com minha filha no colo e um sujeito me olhou com uma cara, parecia aqueles cachorros acuados, que precisam agir por causa da raiva. Ele estava com pedras de gelo na mão, em pé, justamente para fazer isso, para arremessar coisas na gente. Quando eu mostrei a câmera do meu celular, ele se assustou e saiu correndo — contou o diretor do longa Raia-4.
O protesto foi desencadeado pela classe artística após as recentes declarações e medidas de Jair Bolsonaro contra o cinema brasileiro, como a suspensão de um edital para TVs públicas que tinha como foco séries sobre diversidade. Porém, Cunha esclareceu que a manifestação não tinha cunho político ou partidário.
— Nós estávamos com cartazes de filmes, e existem falas do presidente sobre uma possível censura à arte. Estávamos levantando a importância do cinema ser uma arte inclusiva e democrática. Não havia camisetas ou bandeiras de partidos. Nossa luta é para que o cinema seja uma arte livre — explicou.
O diretor, que estava com a filha de quase dois anos no colo no momento da manifestação, contou que quase não conseguiu entrar no Palácio dos Festivais por conta do estado de choque.
— Eu fui abraçá-la e pensei que aquilo não era real. Quase não entrei no palácio de choque. Foi a primeira vez que passei por isso e está sendo difícil digerir. Nunca tinha sentido essa violência tão encarnada e tão desmedida — finalizou.
A organização do Festival de Cinema emitiu nota repudiando a atitude dos frequentadores de bares e cafés da Rua Coberta.