Em 2018, pesquisadores australianos publicaram um artigo na revista científica Lancet Child & Adolescent Health defendendo que a adolescência se estende agora dos 10 aos 24 anos. Conforme os cientistas, os jovens têm adiado planos de independência financeira e casamento – além da demora para sair de casa e, consequentemente, do conforto das asas dos pais.
O último longa exibido pelo 47º Festival de Cinema de Gramado, projetado na última sexta-feira (23) no Palácio dos Festivais, 30 Anos Blues traz personagens que estendem ainda mais o período entre a infância e vida adulta, indo além das previsões científicas.
Integrando a mostra competitiva de longas brasileiros, 30 Anos Blues é dirigido pela dupla Andradina Azevedo e Dida Andrade, que repetem a parceria realizada em seu longa de estreia, A Bruta Flor do Querer (2013) – que, inclusive, venceu os kikitos de melhor direção e melhor fotografia.
Se no primeiro filme a dupla explorava as frustrações e incertezas dos jovens em seus 20 e poucos anos (como diria Fabio Jr.), agora eles se apropriam do título de 20 Anos Blues, sucesso na voz de Elis Regina, e acrescentam mais uma dezena para algumas inquietações contidas na letra como “e eu tenho mais de mil perguntas sem respostas”.
Os dois diretores também protagonizam o filme: Andradina vive André, um cineasta que abandonou a carreira para se tornar curador em uma fundação cultural; enquanto Dida é Diogo, um rapaz desempregado que volta a morar na casa dos pais. André tem um relacionamento de longa data com Júlia (Carol Melgaço), mas que passa por uma fase acomodada e protocolar, sem paixão. Ele quer voltar a sentir algo. Passa a buscar algum sentido em festas e em outros encontros. Já Dida reencontra Helena (Júlia Lanina), um antigo caso, em uma festa. Apesar de não ter muita perspectiva de vida, soando um tanto lesado às vezes, ele bagunça o romance e a vida estabilizada de Helena.
Embora contenha alguns diálogos instáveis e trilha sonora destoando das cenas, 30 Anos Blues serve como uma moldura da imaturidade que é vista na geração millennial (pessoas nascidas entre o início dos anos 1980 até meados dos 1990). Diante de seus dilemas e inquietudes, tanto André como Diogo tomam decisões erradas, infantis, e se tornam execráveis à medida que o filme avança. Cabe aos personagens femininos – Helena e Júlia – terem um pouco mais de senso por ali. De qualquer maneira, o filme faz uma ilustração da adolescência tardia e, bem, quem é dessa geração millenmial ou acompanha as pessoas desse círculo, facilmente já visualizou as bobeiras realizadas pelos protagonistas.