Antes de começar a sessão para imprensa de Homem-Aranha: Longe de Casa, fomos informados, gentilmente, de que a Sony – coprodutora, com a Marvel, do filme em cartaz a partir desta quinta-feira (4) nos cinemas brasileiros – pediu que os jornalistas evitassem spoilers em suas críticas. Durante a exibição, uma pergunta ficou martelando a cabeça: o que seria spoiler em relação à segunda aventura solo estrelada pelo carismático Tom Holland no papel de Peter Parker?
Seria spoiler dizer que o início do filme retoma o clima de comédia romântica adolescente que também pautou Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017) e no qual os personagens coadjuvantes – MJ (Zendaya), a paixão platônica de Peter, Ned (Jacob Batalon), seu amigo nerd, Betty Brant (Angourie Rice), a colega de classe aspirante a jornalista, Flash Thompson (Tony Revolori), que ama o Aranha mas despreza Parker, e também os professores paspalhões vividos por Martin Starr (da série Silicon Valley) e J. B. Smoove (do seriado Segura a Onda) – garantem momentos de charme e humor, como a inventiva forma de resumir, em um vídeo de escola com efeitos deliciosamente toscos, os eventos de Vingadores: Ultimato e situar o público sobre o status atual do universo cinematográfico da Marvel?
Seria spoiler dizer que o Homem de Ferro, a figura paterna de Peter Parker e o mecenas do Aracnídeo, será presente mesmo depois de morto?
Seria spoiler dizer que a turma parte de New Jersey em uma viagem para a Europa que justifica o título Longe de Casa, que também pode ser interpretado como um recado de que, neste filme, Peter vai ter de crescer como pessoa e como herói?
Seria spoiler dizer que o personagem interpretado com gana por Jake Gyllenhaal, Quentin Beck/Mysterio, não é o que parece ser quando surge feito o único sobrevivente de uma dimensão aniquilada por monstros elementais que agora despejam sua fúria filtrada pela tecnologia digital na Terra, sendo que qualquer leitor razoavelmente familiarizado com os gibis do Aranha já topou com esse nome (que também poderia ser facilmente buscado no Google), que batiza um vilão criado ainda nos primeiros anos do herói, 1964, e notório por criar ilusões cinematográficas – ou seja, deveríamos mesmo nos surpreender quando ele, didaticamente, revela suas maquiavélicas intenções? O diretor Jon Watts e os roteiristas Chris McKenna e Erik Sommers realmente construíram um arco dramático achando que estavam enganando a audiência como enganam os personagens do filme?
Seria spoiler dizer que, a exemplo de Pantera Negra (2017) e Capitã Marvel (2018), há uma agenda política por trás e que nessa, sim, a escalação de Mysterio, alguém que manipula a realidade, se mostra um grande acerto, ao empregar um discurso e uma prática que expõem nossa facilidade – ou seria nossa vontade? – de acreditar em fake news, de se deixar iludir em nome do que acreditamos?
Seria spoiler dizer que, no meio de cenas de ação pouco empolgantes ou memoráveis (acho que ninguém vai sair do cinema com vontade de subir pelas paredes), o filme é fiel ao espírito dos quadrinhos, trabalhando alguns dos temas que tanto contribuíram para a identificação do herói com seu público, como os dramas, os anseios e as angústias de um adolescente, o desejo de aprovação junto a seus pares, o sentimento de inadequação no mundo dos adultos, o embate entre prioridades e responsabilidades?
Seria spoiler dizer que, como já é tradição nos filmes de super-herói, há duas cenas pós-créditos, e que elas não apenas trazem um personagem querido do público, não apenas ressignificam algo do que vimos, não apenas apontam o futuro da franquia, como também atestam o sucesso da Marvel em criar uma espécie de narrativa transmídia, que, graças ao engajamento dos fãs, "continua" nos fóruns de redes sociais e nos canais de YouTube que se dedicam a bolar teorias e especular caminhos, às vezes falando mais sobre essas cenas do que sobre os filmes em si?
Seria spoiler dizer que o... Sim, isso seria spoiler.