Frances (Chloë Grace Moretz) é uma jovem ingênua recém chegada a Nova York que mora com a colega mais safa Erika (Maika Monroe, de Corrente do Mal) e trabalha como garçonete em um restaurante chique. Certo dia, voltando para casa de metrô, ela encontra uma bolsa elegante esquecida em um banco do vagão. Com a identidade da proprietária no interior, Frances vai até a casa da mulher para devolvê-la, e lá conhece a intrigante Greta (a gigantesca Isabelle Huppert), uma mulher mais velha e sofisticada que, no entanto, vive solitária depois da morte de seu marido, um músico organista, e da mudança de sua filha para Paris. Muito apropriadamente, Frances perdeu a mãe há pouco tempo e está em um momento de turbulência em sua relação com o pai, o que facilita uma aproximação entre as duas, que logo criam uma relação de amizade que espelha a intimidade mãe e filha de que ambas sentem falta.
Considerando que o título brasileiro já deixa claro que estamos falando de um thriller (o original é apenas Greta), não se está dando nenhum spoiler ao comentar que logo Chloe começa a perceber nuanças estranhas no comportamento gentil e carinhoso de Greta, e logo o filme evolui para um suspense sobre uma personagem que persegue outra obsessivamente, em uma escalada que vai do incômodo ao constrangimento e não tarda a desembocar no perigo.
Obsessão é dirigido por Neil Jordan, veterano realizador irlandês que tem no currículo obras surpreendentes que aliam o clássico ao inovador, como Traídos pelo Desejo (1992), Nó na Garganta (1997) e Café da Manhã em Plutão (2005). Mas que, dentro do esquemão hollywoodiano, às vezes assina equívocos como A Premonição (1999) ou obras que estão longe de ser unanimidade, como Entrevista com o Vampiro (1994).
Mulheres como centro são única inovação
A figura do “stalker”, o perseguidor de quem uma vítima não consegue se livrar e que o observa com obsessão voyeurística muitas vezes despercebida, é um tropo tradicional no cinema de suspense, e já gerou incontáveis produções ao longo de décadas de cinema.
A emergência da era da exposição digital em massa parece ter colocado esse tipo de história em circulação novamente: tivemos, em rápida sucessão na última década, A Inquilina, de Antti Jokinen (2011), O Garoto da Casa ao Lado (2015), de Rob Cohen, e Distúrbio (2018), de Steven Soderbergh, além da série de sucesso Você (2018). Coautor do roteiro, Jordan inova ao retirar da equação a tensão sexual óbvia entre homem e mulher que move a maioria dos demais e em apostar em duas mulheres com outro tipo de carência emocional no centro da trama. Mas é a única novidade em um filme que segue sem ousadia a cartilha do “filme de stalker”. Sobra Huppert, dominando a tela sem se esforçar.
Obsessão
- De Neil Jordan. Drama/Suspense. EUA/Irlanda, 2019, 98 minutos, 14 anos
- Em cartaz na Capital
- Cotação: 2/5