De um lado, o experiente ator carioca Thiago Lacerda, 41 anos, consagrado por dezenas de papéis de destaque em novelas e minisséries. Do outro, o porto-alegrense Miguel Coelho, 30 anos, que tem no currículo participações em Malhação e na novela Espelho da Vida. Um veterano e um novato são protagonistas do longa gaúcho Além de Nós, rodado em Bagé entre 6 e 12 de abril e que vai percorrer outros sete Estados.
Nos bastidores das filmagens, Thiago é uma espécie de mentor de Miguel.
– É um cara extremamente solidário, que ajuda muito. É generoso em cena. Está sendo um grande parceiro – destaca Miguel, que está trabalhando em seu primeiro longa-metragem.
Em Além de Nós, Lacerda vive Artur, homem que sente-se deslocado em Dos Passos. Ao resolver acompanhar o sobrinho até o Rio, ele vê uma oportunidade para sair do lugarejo na fronteira com o Uruguai.
– Para Artur, esse trajeto é uma necessidade física. Está contaminado por um ambiente muito asfixiante. Precisa se libertar desse lugar que o exaure e o oprime, Artur se sente preso e rompe sua última amarra no começo do filme – diz Lacerda.
Para o ator, seu personagem é um homem melhor do que Dos Passos lhe permite ser:
– É uma figura que cresceu e foi convencida de que é um grande problema. Tem desejos e necessidades reprimidas em nome de uma necessidade hierárquica. Esse cara foi castigado por muito tempo, levado a acreditar que é um perdedor. Foi se entristecendo e ficando cada vez mais cinza. Até que a oportunidade da jornada se faz e ele percebe que esse é o caminho.
Diferente dos mocinhos ou vilões que Lacerda está acostumado a interpretar nas novelas, Artur é um personagem mais singular:
– Acho que essa natureza mais introspectiva do Artur, conflituosa e dura, é uma diferença dos personagens que faço. É um desafio, um lugar que me interessa investigar.
Relação muito próxima com o Rio Grande do Sul
Devido às produções que realizou no Estado, como a minissérie A Casa das Sete das Mulheres e o filme O Tempo e o Vento, e ao arrendamento de terras na região de Bagé, Thiago Lacerda criou fortes vínculos com o Rio Grande. O mate virou um hábito e ele brinca ser o "carioca mais gaúcho que existe":
– Venho muito ao Rio Grande do Sul. Tenho uma relação de bem-querer, carinho e respeito com o Estado. Me sinto em casa, mais especificamente em Bagé. Estar aqui é voltar para um lugar que eu conheço e me dá um suporte afetivo para essa jornada.
Persistência marca começo da carreira do gaúcho Miguel Coelho
Aos 30 anos, Miguel Coelho está engatinhando na carreira de ator. Além de Nós marca sua estreia em um longa, já como protagonista. As filmagens iniciaram-se logo após o fim da novela Espelho da Vida, exibida na faixa das 18h.
– Nem tive tempo para descansar. Segunda-feira (1º de abril) foi ao ar o último capítulo. Peguei o avião no meio da festa e vim para cá no dia seguinte. São veículos diferentes, mas são similares em diversos aspectos. Acho que no cinema você mostra mais sua atuação, se entrega mais, tem um pouco mais de tempo em cada cena. Começar em um longa como protagonista é uma responsabilidade grande.
O primeiro personagem de Miguel Coelho no cinema é Leo, um jovem introspectivo.
– É um menino que foi criado a vida inteira em Dos Passos, um peão de fazenda. Um pouco agressivo, ele explode com facilidade. Perde muita coisa no início do filme e acaba sendo dominado pelos sentimentos internos. Ele não diz isso para ninguém. É um homem, mas por dentro ainda é um menino. É um cara muito trabalhador, cumpridor de tarefas. Ao longo do filme, vai descobrir outros tantos sentimentos bons que tem – explica Coelho.
Para o papel, o ator porto-alegrense, que vive agora no Rio, precisou passar por laboratórios e adequações:
– Eu ganhei um pouco de peso. Viemos para Bagé alguns dias antes das filmagens para fazer uma imersão. Aprendi muita coisa da lida do cavalo, do boi. Foi muito importante visualizar peões e capatazes. Ver a postura deles, que é completamente diferente da minha, é reta e correta, com muito respeito, que tira o chapéu para te cumprimentar, coisa que o povo da cidade perdeu.
Formado em Administração, Coelho começou a atuar na Capital por convite de Zé Adão Barbosa, diretor, ator e professor de teatro. Antes de conseguir emplacar em Espelho da Vida, fez uma pequena participação em Malhação.
– Acontecia muito de fazer um teste e ficar entre eu e Joãozinho, e o Joãozinho pegava. Eu e o Zequinha, e ele pegava. Sempre. Isso se repetiu nos últimos cinco testes. Agora tudo rolou e valeu a pena. Não é fácil. Eu entendo que é um aprendizado. Às vezes você não está tão preparado. Tem que correr atrás. Estudar ainda mais. Como diz meu grande mestre Zé Adão Barbosa: estuda, estuda, estuda. É a persistência também. Quando você quer alguma coisa de verdade, tem que persistir. Mas eu já estava a ponto de desistir (risos). Mas insisti.