Com Oito Mulheres e um Segredo, Hollywood apresenta uma aventura feminina na era do movimento #MeToo, campanha liderada por diversas atrizes que lutam para romper vários paradigmas de gênero na indústria cinematográfica.
Com estreia na quinta-feira (7), mais de dez anos depois de Treze Homens e um Novo Segredo, terceiro capítulo das aventuras de Danny Ocean (George Clooney) e seu grupo de bandidos que roubam cassinos sem perder a elegância, o filme inicia com o líder da gangue dado como falecido em circunstâncias desconhecidas. Quem toma seu lugar é sua irmã mais nova, Debbie, interpretada por Sandra Bullock. Tal como o irmão no início da trama, a personagem acaba de sair da prisão.
O cenário do novo filme também é diferente: saem os cassinos e entra a vida urbana e cosmopolita de Nova York, em meio ao famoso baile de gala do Met. O evento, organizado na vida real a cada mês de maio pela editora da revista Vogue Anna Wintour, é o momento escolhido por Debbie Ocean para roubar um colar de US$ 150 milhões.
Para concretizar a façanha, Debbie reúne uma equipe de especialistas, todas mulheres. Algo raro, mas já observado em filmes como Até as Últimas Consequências (1996), com Queen Latifah liderando um grupo de mulheres negras em um assalto a banco. Mas Oito Mulheres e um Segredo vai além e evita completamente a testosterona. O longa-metragem abre mão de elementos inerentes ao gênero.
O filme não tem armas, explosivos, violência física ou a encarnação de um rival, uma espécie de inimigo representado por Terry Benedict (Andy Garcia) em Onze Homens e um Segredo. Ficam apenas o planejamento de roubar e a execução minuciosa do plano.
"Muitas coisas mudaram", reconhece Cate Blanchett
Enquanto as tentativas anteriores apresentavam mulheres inexperientes, em alguns casos quase caricaturas, Oito Mulheres e um Segredo mostra Debbie e suas cúmplices como uma equipe que não perde em nada para o grupo de Danny Ocean. As personagens lideradas por Sandra Bullock são interpretadas por um elenco de peso: Cate Blanchett, Anne Hathaway, Sarah Paulson, Helena Bonham Carter, Mindy Kaling a atriz e rapper asiática Awkwafina e a cantora Rihanna. A seleção mostra uma mistura de cores e origens.
— Já existiram versões masculinas, mas nunca houve este tipo de elenco de mulheres, que arrebentam — reconheceu o diretor Gary Ross, de Jogos Vorazes.
Ross, que também é um dos roteiristas, explicou que foram necessários três ou quatro anos para que o projeto de um filme de alto orçamento completamente apoiado em atrizes fosse aprovado, inclusive com três atrizes vencedoras do Oscar e uma celebridade como Rihanna no elenco.
— É interessante ver que há dois ou três anos, isto parecia impossível. Muitos coisas mudaram, acredito — disse Cate Blanchett, que interpreta Lou, a pessoa de confiança de Debbie.
O filme foi rodado antes do escândalo Harvey Weinstein, mas ainda assim obriga Hollywood a questionar suas práticas e o local ocupado pelas mulheres no cinema.
— O que importa, em particular para as jovens mulheres, é ver personagens femininos que não são arquétipos, rasos, e sim bem diferentes, complexos, com nuances — disse Olivia Milch, uma das roteiristas do filme.
Na era #MeToo nada pode ser considerado neutro, inclusive um filme que não tem mensagem política e que pretende sobretudo divertir.
— Você não pode subestimar o poder da representação visual — disse Anne Hathaway, que interpreta a estrela Daphne Kluger, que usa o famoso colar durante o baile do Met, no Museu Metropolitano de Nova York.
— E para uma menina de 8 anos nós não estamos dizendo para seguir uma carreira no crime, nós estamos falando: "Vá fazer o que você deseja. Existe espaço para você" —incentivou a atriz.