O #MeToo terá um impacto duradouro para os direitos das mulheres? Cinco meses depois da explosão do escândalo Harvey Weinstein, a mobilização contra a violência sexual é quase planetária, mas os desafios sobre a igualdade de gênero persistem.
Além do #MeToo e do #Timesup, nascidos nos Estados Unidos, outras iniciativas históricas permitiram às mulheres conquistar direitos nos últimos meses.
A Arábia Saudita, único país do mundo que proíbe as mulheres de dirigir, anunciou que elas poderão estar à frente do volante a partir de junho. Além disso, em janeiro, pela primeira vez as mulheres foram autorizadas a entrar nos estádios de futebol, embora continuem submetidas à tutela de um homem para estudar ou viajar.
No Irã, algumas mulheres desafiam publicamente desde dezembro a obrigação de usar o véu nos espaços públicos.
"São pequenos passos em mundos onde a questão das mulheres está muito controlada", declarou Christine Mauget, da agência francesa de Planejamento Familiar, por ocasião do Dia Internacional das Mulheres.
Mauget é otimista com a dimensão do movimento #MeToo, mas antecipa que "apesar de estar no bom caminho, devem acontecer regressões".
Ela cita como exemplo o direito ao aborto e aos métodos contraceptivos.
O Conselho da Europa apontou em dezembro as "restrições retrógradas" em termos de acesso à contracepção e ao aborto em vários países europeus, como Armênia, Geórgia, Macedônia, Rússia e Eslováquia.
A Polônia examina a possibilidade de endurecer a já restritiva legislação sobre o aborto. Com o apoio dos ultraconservadores, a interrupção voluntária da gravidez pode deixar de ser autorizado em casos de má formação do feto.
"Mesmo nos países onde a lei é menos restritiva, as mulheres às vezes enfrentam obstáculos importantes", explicou Nils Muiznieks, comissário para os direitos humanos, no relatório do Conselho da Europa.
Na Itália, sete em cada 10 profissionais da saúde se recusam a autorizar um aborto, alegando uma cláusula de consciência. Na Turquia, uma mulher casada precisa do consentimento do marido para abortar.
Na Irlanda, um referendo está programado para o fim de maio para decidir sobre uma flexibilização do direito ao aborto, que atualmente é autorizado apenas se a gravidez representa um "risco real e substancial" para a vida da mãe.
Na América Central, as leis contrárias ao aborto são particularmente rígidas, como ilustrou recentemente a libertação da salvadorenha Teodora Vásquez, que passou 11 anos presas após um parto dramático que foi classificado pela justiça como "homicídio com agravante".
- Dependência econômica -
Mauget denuncia os casos de "mulheres obrigadas a migrar por motivos econômicos, guerras ou questões climáticas e que se encontram em campos onde não são respeitadas, em trajetos nos quais são violentadas".
"Se fala muito pouco do trabalho que deve ser feito antes, sobre os estereótipos e a educação sexual", lamenta Véronique Séhier, copresidente da agência de Planejamento Familiar.
A filósofa e historiadora do pensamento feminista Geneviève Fraisse vê o escândalo Weinstein e suas consequências como um "catalisador, que volta a apresentar a questão da igualdade profissional e econômica, já que em situações de dependência econômica as mulheres são vítimas da violência".
De acordo com o Fórum Econômico Mundial, no ritmo atual a igualdade profissional entre homens e mulheres só deve acontecer em 2234.
A cada ano, um dia de luta pela igualdade salarial, "Equal Pay Day", simboliza as diferenças. É programado para o dia em que as mulheres alcançam a remuneração média recebida pelos homens no ano anterior, segundo Valentine Viard, da associação Business and Professional Women (BPW).
Em 2018, a Espanha atingiu o 'Equal Pay Day' em 22 de fevereiro. Na França, acontecerá em 26 de março e nos Estados Unidos no dia 10 de abril.
Para protestar contra as desigualdades, em alguns países as mulheres foram convocadas a interromper os trabalhos às 15H40 de 8 de março, Dia Internacional das Mulheres.
paj-jlo/app.zm/gp/fp
* AFP