Com estreia nesta quinta-feira (14) em Porto Alegre, no Espaço Itaú, o longa-metragem gaúcho Em 97 Era Assim faz uma bem-sucedida incursão em um gênero pouco presente na cinematografia nacional, mas com forte apelo junto ao público adolescente: a comédia juvenil que coloca seus protagonistas diante daqueles componentes hormonais que, nessa fase da vida, sintetizam todo um universo em ebulição.
Renato (Fredericco Restori), Moreira (João Pedro Corrêa Alves), Pilha (Pedro Diana Moraes) e Alemão (Julio Estevan), os protagonistas deste novo filme do prolífico diretor bageense Zeca Brito, estão na faixa dos 15 anos. Vivem em Porto Alegre, acreditam ser a hora de perder a virgindade e criam atrapalhados expedientes para cumprir a missão, em meio à rotina na escola, à falta de jeito com as meninas que parecem bem mais maduras do que eles e às primeiras paixões não correspondidas.
O jovem elenco dá conta do recado com competência. A localização de época, nos tempos da internet discada e dos celulares tijolões, no embalo eclético de Supergrass, Raimundos e É o Tchan, capta um momento não tão distante mas que, à luz das mudanças regidas pelas redes sociais, parece hoje pré-histórico. Com ritmo e humor bem dosados, esmerada reconstituição de época, Em 97 Era Assim é uma boa surpresa dentro da sua proposta — uma pena que seu lançamento no circuito não tenha ganhado mais do que dois horários em uma sala do Espaço Itaú.
Embora o espelhamento imediato de Em 97 Era Assim se dê com comédias norte-americanas do modelo que vai de Porky’s (1981) a Superbad (2007) –, cenários, situações, vocabulário e o tom de painel memorialístico geracional permitem uma associação do longa de Brito a antecessores gaúchos clássicos como Deu Pra Ti Anos 70 (1981) e Verdes Anos (1984).
Alguns rostos conhecidos fazem figuração nas aventuras dos moleques, entre eles o crítico e pesquisador de cinema Jean-Claude Bernardet, no papel de diretor do colégio. Produção da Panda Filmes, Em 97 Era Assim reúne em sua equipe técnica profissionais destacados do audiovisual gaúcho como Leo Garcia (roteiro), Bruno Polidoro (fotografia), Frederico Ruas (montagem) e Léo Henkin (direção musical).
Transitando entre o documentário e a ficção Zeca Brito chega a seu quarto longa — o segundo lançado em 2018, após A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro, codirigido com Leo Garcia. O diretor tem pelo menos mais dois na fila: o já finalizado Grupo de Bagé, documentário sobre os referenciais pintores e gravadores Glênio Bianchetti, Glauco Rodrigues, Carlos Scliar e Danúbio Gonçalves, e o em finalização Legalidade, ficção que reconstitui o movimento de resistência comandado por Leonel Brizola, em 1961, para garantir a posse do presidente João Goulart.
Em 97 Era Assim
De Zeca Brito.
Comédia, Brasil , 2017, 94min, 16 anos.
Estreia nesta quinta (14) no Espaço Itaú 8, às 15h20 e 19h40.