Eles evitam abordar sua vida pessoal, mas outras pessoas não conseguem evitar: o cineasta iraniano Asghar Farhadi não poupou elogios nesta quarta-feira (9), em Cannes, ao casal Penélope Cruz e Javier Bardem, que dirige no filme Todos lo saben.
— São uma família harmoniosa, com uma simplicidade com seus filhos que é única. Representam o símbolo do casal feliz e apaixonado — afirmou o diretor à imprensa.
A declaração de Farhadi foi dada após a exibição, na véspera, do filme em língua espanhola, rodado em Madri, que foi bem recebido pela crítica.
— Eles têm um limite muito claro entre a vida real e o trabalho — completou.
Cruz e Bardem protagonizam o filme exibido na abertura do Festival de Cannes. O longa-metragem dirigido por Farhadi, sobre os segredos e divergências de uma família, conta ainda com o argentino Ricardo Darín e os espanhóis Barbara Lennie e Miguel Herrán, conhecido pela série La Casa de Papel.
Este é o nono filme em que Cruz e Bardem, já premiados em Cannes e no Oscar, atuam juntos. O casal, que tem dois filhos e mora na região de Madri, explica que o trabalho não entra em casa.
— Quando o dia acaba, não falamos de trabalho. Quando era mais jovem, era diferente. Eu dizia que tinha que torturar-me, permanecer na personagem por meses, mas entendi que não é uma boa estratégia — refletiu Penélope Cruz.
Diante da pergunta inevitável nesta edição do festival, sobre ter adotado a bandeira feminista após o terremoto provocado pelo escândalo Harvey Weinstein, Penélope Cruz revelou que recebeu o mesmo salário que o marido em Todos lo Saben, em que interpreta uma mãe cuja filha desaparece no fim de um casamento. É aí que recebe ajuda de um ex-namorado, interpretado por Bardem. Farhadi, que é iraniano, conseguiu a proeza de rodar um filme em um idioma que aprendeu em dois anos, retratando sem clichês a cultura espanhola.
— Ele é como uma esponja. Absorveu tudo sobre como se vive na Espanha — afirmou a atriz sobre o diretor.
A crítica elogiou de maneira geral o filme, mais uma trama intimista de Farhadi (A Separação, O Passado, O Apartamento), e aplaudiu em especial o trabalho dos atores. Até uma das críticas menos entusiasmadas, a da revista Variety, apontou: apesar de ser o filme "mais fraco" do diretor, é melhor do que a grande maioria dos dramas comerciais produzidos na Espanha, França e Estados Unidos.
O filme, que está na mostra competitiva pela Palma de Ouro, foi vendido à distribuidora Focus Features, que será responsável pela exibição nos Estados Unidos. A estratégia é tentar encaixar o longa-metragem no período de premiações da indústria americana.