Se a razão dos efeitos especiais é causar medo ou deslumbramento no público, uma gaúcha será tomada por um sentimento peculiar quando cenas surpreendentes aparecerem na telas que exibirão Vingadores: Guerra Infinita, com estreia no Brasil nesta quinta-feira (26). Nascida em Porto Alegre e formada em Publicidade e Propaganda em Santa Maria, Liciani Vargas, 30 anos, é responsável por uma dezena de cenas que tornam o longa da Marvel uma superprodução cinematográfica.
Será um misto de orgulho e alegria, portanto, que invadirá a compositora de efeitos visuais, contratada há oito meses para fazer parte da equipe do Double Negative, estúdio situado em Londres. Liciani retornou ao Brasil em fevereiro para organizar a vida. Quando a empresa a convocou, deixou para trás o cargo de supervisora de composição na produtora O2, em São Paulo, além de apartamento, gatos e namorado para aproveitar a oportunidade.
— Foi um sonho. Cheguei lá e não tinha caído a ficha. Só caiu quando aprovaram a minha primeira cena. Falei: "Meu Deus! O mundo inteiro vai ver uma cena que fiz". É uma sensação muito louca — reconhece, em entrevista por telefone de São Paulo.
Compondo efeitos especiais
Sua primeira missão em Londres foi trabalhar em Liga da Justiça, que reúne os heróis da DC Comics, sem saber qual seria o próximo desafio. Antes mesmo de o filme ser lançado, em novembro de 2017, assumiu os efeitos visuais da sequência da saga da Marvel. A tarefa de compor efeitos visuais é fundamental para um filme que se propõe a ser uma superprodução: precisa ligar os efeitos já criados, como a fumaça feita em 3D e os movimentos de um monstro, de forma a convencer o espectador.
— Tem que unir tudo para fingir que aquela cena foi filmada de verdade. A gente fala que, quando tu não sente o efeito, é porque o efeito está bom — explica.
Em Londres, era um dos seis brasileiros entre as cerca de 1,2 mil pessoas trabalhando com efeitos visuais. A realidade de um estúdio europeu a chocou: diferente de seu país natal, onde acostumou-se a ser uma das únicas mulheres na área, a equipe londrina era dividida igualmente entre homens e mulheres. Apesar do cenário inóspito, a carreira no Brasil a catapultou para os blockbusters. Aqui, trabalhou nas séries Felizes Para Sempre?, da Globo, e Psi, exibida no canal HBO. Nos longas Real - O Plano Por Trás da História (2017), Internet — O Filme (2017) e Um Namorado Para Minha Mulher (2016), assina como supervisora das equipes responsáveis pelos efeitos visuais.
Mesmo que tenha iniciado a carreira mirando nos grandes estúdios do exterior, reconhece o momento importante da indústria audiovisual no Brasil.
— O mercado brasileiro cresceu muito nos últimos anos. A gente está criando produções que demandam efeitos bacanas, séries, novelas. Ainda está longe da indústria americana e inglesa, mas está tomando forma.
Expansão do mercado
Se antes os Estados Unidos lideravam a área dos efeitos visuais, a crescente indústria de superproduções cinematográficas distribuiu o trabalho pelo mundo. Hoje, diz Liciani, não é necessário ir até o país para ajudar na composição de efeitos de um blockbuster americano. Diferentes estúdios, situados em diversas partes do mundo, são contratados para pequenas e grandes demandas de uma mesma produção.
— Os efeitos são feitos em toda a parte do mundo, não existe mais um monopólio dos Estados Unidos. (Estúdios de países como) Nova Zelândia, Canadá, Londres e uma imensa quantidade de trabalhos feitos na Índia e na China para coisas mais simples, não tão artísticas.
Cinéfila do tipo que prestigia diferentes gêneros, se vê entusiasmada ao contribuir para histórias fantásticas que mexem com o imaginário das pessoas e arregimentam fãs.
— Fico feliz em fazer parte desses filmes que chegam às pessoas de uma forma muito intensa. Tu sai na rua e vê os adultos usando camisetas, crianças com brinquedos. Toca muito. É gratificante.