Considerado um dos principais cineastas da Europa em atividade, Fatih Akin, 44 anos, retorna aos cinemas brasileiros com Em Pedaços, filme denso que lembra as primeiras produções do cineasta alemão de origem turca. Listado entre os nove pré-selecionados para disputar o Oscar de filme estrangeiro neste ano, o longa acabou esnobado pela Academia de Artes e Ciência Cinematográficas, apesar de ter vencido a categoria no Globo de Ouro e também no Critics' Choice Awards.
A trama de Em Pedaços é concebida a partir das relações entre o imigrante e o alemão, tema central da obra de Akin e essencial para entender a Europa contemporânea. Mas as tensas relações do cotidiano que pautaram filmes como os premiados Contra a Parede (2004) e Do Outro Lado (2007) dão lugar a um tema do início do século passado e que ainda assombra a Alemanha: o nazismo.
– Durante toda a minha vida, quis fazer algo sobre racismo, pois, quando se nasce e se é criado na Alemanha enquanto membro de uma minoria, filho de imigrantes turcos, você depara com o racismo cedo ou tarde. Desde menino, sabia a respeito dos neonazistas, que matavam estrangeiros. Sofri com esse trauma por toda a minha vida – afirma Akin em entrevista por telefone a Zero Hora.
Roteiro foi inspirado em ataque de extremistas
A revolta que o assunto causa no diretor, e que até hoje envergonha grande parte dos alemães, surge com força no filme Em Pedaços, cujo roteiro foi inspirado nos assassinatos cometidos na Alemanha pelo grupo de extrema direita Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU) entre 2000 e 2006.
No longa, Akin escancara a sua inconformidade não só contra os terroristas, mas também com a forma como a polícia e o Ministério Público agiram diante desses crimes, investigando os parentes das vítimas e chegando a transformá-las em suspeitos.
A protagonista é a atriz alemã naturalizada americana Diane Kruger, conhecida por seus trabalhos em Troia (2004), Bastardos Inglórios (2009) e Adeus, Minha Rainha (2012). Curiosamente, Em Pedaços é o primeiro filme falado em alemão na sua carreira e lhe valeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes do ano passado. Diane interpreta Katja Sekerci, alemã que mora com o marido, Nuri, um ex-presidiário turco, e o filho de sete anos em Hamburgo, segunda maior cidade da Alemanha. A vida de Katja será devastada após a morte de ambos, devido a uma bomba que explode diante do escritório do marido. Desesperada, ela decide lutar por justiça e se vingar ao descobrir que os responsáveis foram integrantes de um grupo neonazista.
Em Pedaços marca o retorno de Akin aos holofotes da indústria cinematográfica mundial. Desde 2009, com a comédia Soul Kitchen, sobre o dono de um restaurante que tenta reerguer o seu empreendimento em meio a muitas trapalhadas, o diretor não conseguia emplacar um filme no Brasil. Garbage in the Garden of Eden (2012), The Cut (2014) e Tschick (2016), seus trabalhos anteriores, não chegaram ao circuito comercial brasileiro, apesar de o cineasta ter como uma de suas marcas obras que podem ser consumidas em qualquer parte do planeta.
Em Pedaços, que tem como seu principal trunfo a atuação segura de Diane Kruger – Akin reverenciou o desempenho dela no momento em que recebeu o prêmio no Globo de Ouro –, ganha visibilidade em momento mais do que oportuno, quando as forças mais conservadoras e nocivas ressurgem e se espalham por todos os cantos.
Em Pedaços
De Fatih Akin
Drama, Alemanha/França/2017, 106min, 16 anos.
Em cartaz no Guion Center 1 (14h, 17h30, 21h)