Talvez nem mesmo o 14 de julho fosse uma data mais apropriada do que esta sexta-feira para a estreia em Porto Alegre de Adeus, Minha Rainha (2012): a história do filme começa no dia da Queda da Bastilha, estopim da Revolução Francesa. Na tela, a intimidade da corte atônita em Versalhes desnuda-se diante dos olhos de uma jovem serviçal.
O longa do cineasta Benoît Jacquot concorreu no Festival de Berlim do ano passado e ganhou três César, o principal prêmio do cinema na França: melhor fotografia, figurino e cenografia. A reconstituição de época é efetivamente um dos destaques dessa produção do diretor de Villa Amalia (2008) e No Fundo da Floresta (2010), rodada em cenários no Palácio de Versalhes.
- O palácio foi a atriz mais cara do filme - brincou Jacquot em entrevista a Zero Hora no começo de maio, no Rio, onde foi homenageado pelo Festival Varilux de Cinema Francês com uma retrospectiva de seus títulos.
Já as atrizes de carne e osso de Adeus, Minha Rainha não ficam atrás em termos de beleza: Léa Seydoux, Diane Kruger e Virginie Ledoyen encarnam os vértices de um triângulo sentimental alimentado por desejo, rejeição e lealdade. O início do filme ecoa a urgência histórica: Sidonie Laborde (Léa) é despertada abruptamente na manhã de 14 de julho de 1789, atrasada para sua função diária - a protagonista é a leitora particular de Maria Antonieta (Diane). Nos primeiros momentos, os rumores da revolta em Paris não chegam a alterar a rotina real na afastada Versalhes - a dedicada garota segue lendo romances e revistas de moda para sua rainha. Aos poucos, porém, o olhar curioso de Sidonie detecta os sinais de inquietação e mudança, observando o comportamento dos monarcas, dos cortesãos e dos criados. Paralelamente, ela observa com inveja e angústia como Maria Antonieta - por quem nutre uma espécie de paixão - mortifica-se por sua amante e protegida, a orgulhosa duquesa Gabrielle de Pontignac (Virginie).
A adaptação que Jacquot e Gilles Turand fizeram do romance da escritora Chantal Thomas costura com inteligência e sensibilidade os dramas individuais dos personagens com o pano de fundo histórico, apontando no cotidiano comezinho palaciano o intransponível fosso que separava nobres de plebeus. Segundo o diretor, todo o peso dramático de Adeus, Minha Rainha foi confiado à expressiva e contida interpretação de Léa Seydoux - atriz que despontou em A Bela Junie (2008), premiada neste ano no Festival de Cannes por La Vie dAdèle:
- No princípio desse filme, não queria mostrar na tela nada que não fosse do ponto de vista da Léa. Isso pressupôs que eu descarregasse nas costas dessa jovem atriz o filme inteiro, só com o pedido de que ela me devolvesse o filme no final.
Adeus, Minha Rainha
Les Adieux à la Reine
De Benoît Jacquot. Com Léa Seydoux, Diane Kruger e Virginie Ledoyen.
Drama, França/Espanha, 2012. Duração: 100 minutos. Classificação: 14 anos.
Estreia nesta sexta-feira no Espaço Itaú 4 e no GNC Moinhos 1, em Porto Alegre.
Cotação: 4 estrelas de 5.
Em cartaz:
Espaço Itaú 4 (13h20, 15h30, 17h40, 19h50, 22h)
GNC Moinhos 1 (14h, 16h, 20h, 22h10)