Segundo capítulo da nova trilogia com os personagens criados por George Lucas para a saga Star Wars, Os Últimos Jedi é um filme que, em teoria, merece muitos elogios. O problema mesmo é a prática. A produção dirigida por Rian Johnson ganha pontos pela ousadia de ser um Star Wars que, na superfície, louva a mitologia estabelecida pelos agora sete capítulos anteriores, ao mesmo tempo em que se dedica a desconstruí-la minuciosamente. O que não significa que, no ato puro e simples de montar a narrativa, o roteiro não apresente furos do tamanho de buracos de minhocas espaciais.
O Despertar da Força, de J.J. Abrams, o primeiro filme da nova série, pecava pelo excesso de reverência ao Star Wars original de 1977 (e que virou o “episódio 4” à medida que a saga foi inchando com novos capítulos). A história era, quando despojada até o osso, basicamente a mesma do primeiro filme, repetindo os mesmos tropos e clichês consagrados pela série, mas com efeitos especiais mais sofisticados e uma personagem feminina no lugar do outrora herói Luke Skywalker. O que torna este Os Últimos Jedi mais ousado é o fato de que ele também revisita pontos fundamentais da mitologia da saga, apenas para desmontá-los.
Um ataque ousado liderado pelo melhor piloto dos rebeldes (agora chamados de “A Resistência”) pode ter repercussões mais complexas do que a euforia da vitória. A impetuosidade dos jovens heróis talvez não seja o bastante para salvar o dia. Um plano para infiltrar a nave inimiga disfarçado talvez não tenha o resultado esperado. As companhias amealhadas pelo acaso podem não ser uma mãozinha do destino.
Rian Johnson já havia comprovado seu apuro como um esteta visual em seu primeiro trabalho, Brick (2005), uma modernização hiperestilizada dos clichês do noir. Também havia demonstrado algum talento para a aventura de ficção científica em Looper: Assassinos do Futuro (2012). São credenciais que ajudam a compreender por que este oitavo episódio é, em termos de estética, o mais bem-acabado de toda a série. Cenas como a batalha na sala do trono do líder Snoke ou o confronto em um planeta coberto de sal vermelho são imagens não apenas empolgantes, mas impressionantes do ponto visual.
Apesar disso, Star Wars: Os Últimos Jedi é mais uma coleção de agradáveis vinhetas do que um filme coeso (menos até do que O Despertar da Força). Como o filme divide-se em mais de um polo narrativo, cada núcleo cria mais de uma oportunidade para comover novos e velhos fãs. A amarração das tramas paralelas, contudo, ao grande drama que sustenta dois terços de todo o filme, é canhestra e inverossímil (e inverossímil aqui não significa realista, apenas adequada às regras estabelecidas pela própria série).
Mas uma virtude inegável de Os Últimos Jedi: em uma temporada de vários blockbusters comprometidos por finais desgraciosos cheios de som e fúria (como Mulher- Maravilha ou Liga da Justiça), o filme melhora em seu último terço e se encerra com uma nota de esperança humanista.