O primeiro museu criado no Rio Grande do Sul e o oitavo fundado no Brasil. Um lugar de memória e testemunho do Estado: seu acervo contém tesouros da Guerra do Paraguai, da Guerra dos Farrapos, da Revolução de 1923, além de documentos da história brasileira e preciosidades da sociedade gaúcha. Localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, o Museu Julio de Castilhos completa 120 anos nesta segunda-feira (30).
Para celebrar o aniversário do museu mais antigo do Estado, a exposição Aos 120 — Nossa História entra em cartaz. A mostra é descrita como um "gabinete de curiosidades", celebrando a história da instituição, trazendo acervos já expostos e outros inéditos e recentemente adquiridos — caso de parte da doação de 120 objetos recebida da família de Borges de Medeiros.
Há também uma sala com peças que fizeram parte da exposição inaugural de 1903, contando com cerâmica, mesa e armário. Neste espaço se encontram também peças das primeiras coleções de ciências naturais, que deram origem ao Museu de Ciências Naturais do RS e que voltaram ao Julio de Castilhos para as comemorações.
As exposições em cartaz serão reformuladas — Memória e Resistência e Narrativas do Feminino — e mais peças estarão dispostas no museu, como as Botas de Ângelo Guerreiro (conhecidas como "botas do gigante"); a escultura equestre de Duque de Caxias, de autoria de Antônio Caringi; as telas Prisão de Tiradentes (de Antônio Parreiras) e Carga de Cavalaria (Guilherme Litran).
A museóloga e diretora do Julio de Castilhos, Doris Couto, destaca que uma das grandes novidades é o acesso ao museu pelo hall, como era originalmente. Também nesse hall há elementos da decorativa original da casa histórica, como a pintura, que foi restaurada. Essas obras foram viabilizadas dentro do programa Avançar na Cultura.
— Esse investimento da Secretaria de Cultura do Estado (a instituição é vinculada à Sedac) permitiu que a gente resolvesse o problema de infiltração aqui no hall, fazendo também um restauro do telhado. Na sequência, recuperamos a pintura do hall. Depois de mais de duas décadas, o museu voltará a ter o acesso originário — comemora Doris.
História e futuro
O museu foi criado a partir do desejo de Julio de Castilhos. Inicialmente, a instituição teve por sede dois pavilhões no Parque da Redenção, que haviam sido construídos para a primeira Exposição Agropecuária e Industrial do Rio Grande do Sul, realizada em 1901. Originalmente chamava-se Museu do Estado, mas a partir de 1907 tornou-se Museu Julio de Castilhos, em homenagem ao ex-presidente do RS.
No começo, o acervo abrangia artefatos indígenas, peças históricas, obras de arte, coleções de zoologia, botânica e mineralogia. Porém, a vocação do museu mudou com o tempo. Doris aponta que, em 1950, o Julio transferiu seu acervo de caráter artístico para o Margs, as peças arqueológicas foram para o Museu Arqueológico do Rio Grande do Sul e o acervo de ciências naturais passaram para o Museu de Ciências Naturais do RS.
— Desde então, a vocação do Julio é ser um museu histórico. Tem a missão de contar a história gaúcha e nacional — acrescenta a diretora.
Em seu mais de século de existência, o museu atravessou períodos com as portas fechadas — geralmente, para resolver problemas estruturais. Um exemplo ocorreu em 1925, quando passou por uma reforma que durou 14 anos. Entre 2020 e 2021, o Julio esteve fechado ao público por conta da pandemia.
Para 2023, Doris ressalta que a instituição aguarda o processo de licitação do restauro geral das duas casas (casa de Julio de Castilhos e casa anexa), com investimento de R$ 14,5 milhões do governo do Estado. A expectativa é que até o meio do ano a licitação seja concluída, e a empresa ganhadora seja encaminhada para contratação. A partir daí, a equipe do museu iniciará a construção de uma reserva técnica nova — prédio de quatro andares que ocupará os fundos da instituição, ao lado do jardim. Essa obra, teoricamente, durará oito meses. Nesse período da construção da reserva, o acervo será preparado para esvaziar a Casa Julio, que entrará em restauro na sequência.
— A exemplo do que fizemos no hall, todos os outros cômodos vão sendo reconstituídos da materialidade mais próxima possível do que foi a original. Enquanto isso, a ideia é ir tratando nossas telas para que possamos constituir uma pinacoteca, uma sala de pintura histórica — diz Doris.
A diretora frisa que o museu não será fechado durante essas obras. Quando a casa histórica estiver sendo reformada, a casa anexa continuará aberta ao público.
— O plano é dotar o museu de todas as condições de acessibilidade e de segurança para que possa desenvolver mais programações culturais que atraiam e acolham os visitantes e, em especial, o público estudantil — acrescenta Beatriz Araújo, secretária de Cultura do RS.
Conforme a secretária, o museu tem ampliado sua expografia, agregando a seu acervo ações afirmativas:
— Contempla-se, por exemplo, peças representativas dos povos originários, com destaque para as esculturas missioneiras. A presença negra em diversas esferas da sociedade gaúcha passou a fazer parte desse conjunto, assim como diferentes perspectivas da questão feminina ao longo dos séculos.
Doris realça que cada peça do acervo é um vestígio de algum momento da história do RS, de alguma comunidade gaúcha. Ela sublinha que o museu vem guardando desde seu primeiro momento de coleta a memória do povo gaúcho e brasileiro
— Lugares de memória são os locais que guardam vestígios da humanidade. Pensar no presente é olhar para tudo isso e ressignificar — pontua.
Exposição "Aos 120 — Nossa História"
- Abertura nesta segunda-feira (30), às 18h, para convidados, e a partir das 19h para o público geral.
- Museu Julio de Castilhos (Rua Duque de Caxias, 1.205), no Centro Histórico, em Porto Alegre.
- Horário de funcionamento: de terça a sábado, das 10h às 17h.
- Entrada franca.