O mundo está em Porto Alegre. Vários deles, na verdade. Nesta sexta-feira (4), a cidade amanheceu com uma galáxia formada somente por globos terrestres coloridos estacionada bem ao lado da Usina do Gasômetro, chamando atenção de quem passava pelo local. Eles são 18, mas fazem parte da exposição urbana 17 ODS Para um Mundo Melhor, que permanece em solo porto-alegrense até 8 de abril.
A galáxia nuançada, que antes de desembarcar na capital gaúcha já havia passado por São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Recife, carrega uma missão nobre: aproximar a população dos 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU), uma espécie de plano de ação com pontos fundamentais para a construção de um mundo mais sustentável, igualitário e justo (conheça cada um deles aqui).
Vem dando certo, garante a idealizadora Catherine Duvignau, CEO da Toptrends, empresa de marketing cultural referência em promoção de arte urbana.
— Conseguimos, além de trazer um trabalho artístico muito bonito, utilizar a arte para chamar atenção para as ODS e divulgar essas causas. As pessoas começam a olhar para as estruturas e entender o que aquela arte está traduzindo. A população não sabe necessariamente o que são esses objetivos. É algo que começou muito nos governos, depois evoluiu para as empresas, mas não necessariamente desceu para a população — alerta a francesa, que há 35 anos tem no Brasil o seu lar.
Cada objetivo proposto pela ONU é representado na exposição por um dos 17 globos do acervo, pintados todos eles por artistas diferentes. E, a cada nova cidade por onde passa, a mostra convida um artista nativo para assinar o 18º globo, que depois é deixado como um presente para a população local. Aqui, a escolhida para colorir um mundo melhor foi a multiartista e professora do Instituto de Artes da UFRGS Lilian Maus.
A obra será pintada ao longo desta sexta-feira, junto ao público que passa pela orla, em uma ação conhecida como live-paiting. Duas ODS ganharão maior destaque na peça: a de número 12, que propõe o consumo e a produção responsáveis, e a de número cinco, que promove a igualdade de gênero. Para isso, a artista vai mesclar pintura com a colagem de lambe-lambes reproduzindo obras das modernistas Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Zina Aita e Regina Graz, tudo isso utilizando materiais sustentáveis e/ou reaproveitados. É também uma homenagem à Semana de Arte Moderna, que completou cem anos no último mês.
— Muito se conhece do Abaporu (obra de Tarsila), de alguns retratos da Anita Malfatti, mas pouco se conhece mais a fundo dessas duas artistas. E a Zina Aita e a Regina Graz, entre as modernistas, ainda são pouco conhecidas. Trabalham com arte decorativa, tapeçaria e outras ditas "artes menores". Isso eu também gosto de trazer no meu trabalho: fugir do "circuitão" da arte tradicional — diz Lilian, explicando a decisão de visibilizar o legado das mulheres modernistas.
Contexto
O encontro da exposição com o público porto-alegrense tem um significado diferente — e não é só porque ocorre justamente no mês em que Porto Alegre celebra seus 250 anos. É especial, explica a idealizadora, pelo papel da capital dos gaúchos, terra do Fórum Social Mundial, na luta pela construção de uma sociedade global mais ambiental, econômica e socialmente sustentável.
— Porto Alegre tem um histórico no que diz respeito a iniciativas e projetos sobre desenvolvimento sustentável. A cidade é muito pioneira nas discussões sobre esse tema, tem o Fórum Social Mundial sendo realizado desde 2001. Ficamos ainda mais felizes por trazer essa exposição para uma cidade que é extremamente voltada para a causa da sustentabilidade — exalta Catherine.
Além disso, o alerta para a necessidade de o mundo inteiro repensar suas ações vem justamente no momento em que se presencia o horror do conflito entre Rússia e Ucrânia. Uma importância a mais, mas também uma responsabilidade, pontua Lilian Maus.
— Nem sempre o embate acalorado transforma. Acredito no poder da transformação via sensibilidade e acho que através dessa sensibilidade provocada pela arte a gente pode muitas vezes ressignificar o mundo, mudar a nossa perspectiva, manter a esperança e os sonhos. No mundo em que vivemos isso é muito importante, porque sem esperança, sem sonhar e imaginar um mundo melhor, como vamos fazer esse mundo melhor? — reflete a artista.
De certo modo, é essa a analogia por trás da mais nova exposição da agenda de Porto Alegre: pintar uma dezena de "mundos melhores". Para quem quiser escolher o seu preferido, é só desacelerar o caminhar ao passar pela Usina do Gasômetro.
17 ODS Para um Mundo Melhor
- A exposição pode ser conferida de 4 de março a 8 de abril, na área externa da Usina do Gasômetro. A visitação é gratuita e pode ser feita 24 horas por dia.
- Em 9 de março, como parte das atividades da mostra, a artista Lilian Maus realizará uma oficina de arte com materiais recicláveis para alunos do Colégio Aplicação da UFRGS.
- Na ocasião, também distribuirá exemplares do seu livro Mar de Brincar, voltado para a introdução do tema da sustentabilidade na formação de crianças em fase de letramento. A obra também está disponível gratuitamente em formato e-book.