Investir em ideias, não em currículos. Este será o objetivo da 13ª Bienal do Mercosul, que será realizada em setembro de 2022, em Porto Alegre. Para a exposição Transe, os organizadores do evento decidiram apostar em uma iniciativa inédita: uma chamada aberta que selecionará, às cegas, os 20 projetos inovadores para compor a mostra. As inscrições podem ser feitas até 20 de julho pelo site do evento.
Mas não basta apenas dar o espaço, os organizadores também querem ajudar os artistas selecionados pelo edital. Para isso, após a escolha dos 20 projetos, os criadores receberão mentoria por parte dos curadores e suporte técnico por meio de entidades parceiras, que colocarão à disposição laboratórios, materiais e equipamentos. Além disso, os escolhidos contarão com uma ajuda financeira para a execução de suas obras, que farão uma ponte entre arte e tecnologia, ocupando o Instituto Caldeira, localizado no 4º Distrito da Capital.
— Temos que nos atentar às ideias, pois a inovação surge de qualquer lugar, o talento pode estar em qualquer parte, mas a oportunidade não é distribuída da mesma forma. Então, a ideia é dar as mesmas chances para todas as pessoas, de qualquer origem, que tiverem ideias transformadoras. E espero que venha alguma coisa muito inovadora disso — explica o curador Marcello Dantas.
O projeto, que também conta com curadoria adjunta de Laura Cattani e Munir Klamt, abrange artistas e coletivos, bem como demais agentes criativos, de qualquer local do mundo. A seleção das obras, além da etapa de análise cega da proposta, contará com outras duas: análise de portfólio e entrevistas. A partir da finalização do processo de escolha, os selecionados, que serão revelados em 22 de setembro, terão um ano para desenvolver as suas obras para a exposição.
Para Dantas, o Brasil não investe na união entre tecnologia e arte. E, por isso, a próxima Bienal do Mercosul quer contar com essa plataforma para abrigar novos formatos e artistas que contribuam com a inovação.
— A ideia é criar uma oportunidade tanto para que jovens talentos surjam quanto para que talentos já existentes consigam trabalhar com novas linguagens — destaca.
A presidente da 13ª Bienal do Mercosul, Carmen Ferrão, acredita que estes novos artistas que surgirão desta chamada aberta ajudarão a Bienal do Mercosul de 2022 a ser ainda mais disruptiva:
— Eles trarão um olhar com inovação, reforçando que a arte pode estar em total sincronia com a tecnologia.
A seleção para a exposição Transe é global. Ou seja, artistas de diferentes pontos do planeta, com culturas e visões de mundo completamente distintas, concorrerão ao espaço no Instituto Caldeira, o que deverá gerar uma mostra carregada de histórias e representatividade.
— A proposta foi muito bem recebida pela comunidade artística e, pelas inscrições que já recebemos, todos parecem estar motivados com a novidade — revela Carmen.
Tanto a presidente do evento quanto o curador desconhecem que alguma outra bienal ao redor do mundo tenha investido em uma ideia de seleção de obras às cegas para compor toda uma exposição, estimulando a ligação entre a arte contemporânea e novas tecnologias, materiais e recursos.
Temática
O tema do evento programado para 2022 será composto por três eixos que, de acordo com os organizadores, conversam com o atual momento do Brasil e do mundo: trauma, sonho e fuga. Carmen Ferrão acredita que estas palavras se conectam com o período vivido pelos artistas neste mais de ano de pandemia e isolamento:
— Eles trarão suas vivências e, certamente, será uma exposição muito reflexiva, pois a reclusão nos deu tempo de pensar.
Com perfil de arte pública, museológico e de inovação, o encontro deverá ser presencial, trazendo de volta o "espírito da Bienal", espera Dantas. O curador reforça que a iniciativa é um momento de confraternização, de encontro e de descoberta sobre o universo das artes visuais.
— A minha leitura de artes visuais é de uma coisa que seja essencialmente multidisciplinar, de transe, que transita de um lado a outro das formas de expressão — enfatiza.