O Pop Center, com suas 800 lojas transbordando de produtos na esquina da Rua Voluntários da Pátria com a Doutor Flores, não parece um lugar histórico. Mas durante a construção do centro popular de compras (ex-Camelódromo), na Praça Rui Barbosa, em 2007, foram descobertas milhares de peças antigas no local, que foi um lixão no século 19 e virou um importante sítio arqueológico. Entre os objetos encontrados, estavam bibelôs, sapatos, garrafas, louças e brinquedos que dão pistas de como era a vida na Porto Alegre daquela época.
Convidada pela direção do Pop Center, a artista caxiense Rochelle Costi decidiu trazer essa história à tona com uma exposição de arte: Ex-Passado, que foi inaugurada na manhã desta sexta-feira (29) em uma das passarelas do shopping popular. Rochelle fotografou os artefatos, que pertencem ao acervo do Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo. Depois, criou reproduções ampliadas das peças que estão expostas junto a textos explicativos. Além disso, algumas imagens viraram estampa em cem camisetas que serão sorteadas entre os consumidores que gastarem mais de R$ 100 no Pop Center.
— É um trabalho sobre pertencimento: a ideia era trazer o passado não como algo que ficou para trás, escondido, mas como um elemento ativo que participa da nossa vida e pertence a todos nós.
Para a artista, esse passado tem bastante relação com o presente do Pop Center, afinal muitas das peças encontradas eram mercadorias importadas de uso prático ou adornos. Ela aponta uma de suas favoritas:
— Essa bonequinha era colocada dentro de um bolo e quem achava usava como amuleto. Era bem popular na Europa.
O estudante de história Alex Latronico estuda os objetos no Laboratório de Pesquisas Arqueológicas da PUCRS e foi convidado pelo Pop Center a dar uma palestra sobre o assunto. Ele aponta para um objeto de louça reproduzido na exposição para dar uma ideia do tamanho do acervo:
— Tem quatro mil peças só com esta estampa. Ao todo, foram achadas mais de cem mil peças.
Arte contemporânea
Radicada em São Paulo, Rochelle tem uma trajetória respeitada nas artes visuais, com participações nas bienais do Mercosul e de São Paulo. Ela é a terceira convidada do programa de Residência Artística do Pop Center, com curadoria do francês Franck Marlot, que em anos anteriores trouxe a Porto Alegre os artistas Mano Penalva e Renato Bezerra de Mello.
— No primeiro ano, fizemos uma exposição no terceiro andar, mas os lojistas não vieram. No segundo, movemos tudo para a passarela, que é um lugar de encontro. Tentamos fazer com que os artistas venham aqui, não é comum. O propósito é promover esse encontro da arte com as pessoas — explica Marlot.
De fato, muitas figuras da arte porto-alegrense foram conferir o lançamento da mostra, que no entanto não chamava muito a atenção dos transeuntes apressados. Trabalhando numa banca próxima, a lojista Inês Campiol, 63 anos, estava alheia ao projeto:
— Acho que para entender, a pessoa têm que saber mais de arte — afirmou.
Por outro lado, o ex-lojista Jorge Luís da Silva parecia bastante interessado: foi na palestra que explicava o projeto e retornou para ver a abertura da exposição.
— Descobri que antigamente havia um estacionamento de carretas aqui, com veículos de tração animal. Era algo que não me passava pela cabeça — conta ele, que gostou especialmente de um bibelô à mostra: — Esse mosqueteiro aqui me lembra meu filho de 23 anos, tem um bigodinho igual.
A exposição Ex-Passado é aberta ao público, com entrada franca, e pode ser visitada até 31 de dezembro.