A Fundação Iberê Camargo revela ao público, durante a Noite dos Museus, uma obra emblemática de uma das grandes artistas do século 20. Criada pela artista franco-americana Louise Bourgeois (1911-2010), a escultura Spider é uma gigantesca aranha de bronze que foi instalada no átrio do prédio como se saísse da sombra em direção à luz externa. Com 3,5 metros de altura e oito longas patas, a figura consegue ser, ao mesmo tempo, ameaçadora e elegante, forte pelo peso de cerca de 700 quilos e frágil pela forma delgada. Foi descrita pela artista como uma ode a sua mãe.
Criada em 1996, a escultura faz parte de uma série de seis peças atualmente espalhadas pelo mundo. Depois de ser exibida na 23ª Bienal de São Paulo, foi adquirida pela Coleção Itaú Cultural, que a cedeu em regime de comodato ao Museu de Arte Moderna (MAM/SP). Lá permaneceu exposta até 2017, quando foi enviada a Nova York para restauro. Em dezembro passado, começou sua itinerância pelo país. Primeiro foi levada a Inhotim, em Minas Gerais, e agora chega a Porto Alegre, onde permanecerá até 28 de julho (visitação gratuita de quarta a domingo, das 14h às 19h), antes de rumar para Curitiba e Rio de Janeiro.
Em Porto Alegre, a obra vem acompanhada pela gravura Spider and Snake (2003), da artista, e também um vídeo informativo. Na cidade para acompanhar a montagem, o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, comentou sobre a reação que ela costuma despertar no público:
— A princípio, causa estranheza. Alguns acham bonita, outros acham incômoda. Quando a pessoa assiste ao vídeo, as coisas começam a ficar mais naturais.
Nome referencial da arte e ícone feminista, Bourgeois foi contemporânea de mestres da arte abstrata americana, como Jackson Pollock e Mark Rothko, mas o caminho trilhado até o reconhecimento veio muito depois: em 1982, aos 70 anos, ganhou uma retrospectiva no The Museum of Modern Art (MoMA). Para ela, “arte era garantia de sanidade”, espaço para refletir sobre a vida doméstica, a família, a sexualidade, o corpo, a morte e o inconsciente. Muitas de suas obras estão ligadas à infância, passada no ateliê de restauro de tapeçarias da família na França. Bourgeois ajudava sua mãe no trabalho, que envolvia agulhas e lãs. Essa experiência inspiraria os vários trabalhos com aranhas, que passaram a representar a sua mãe já nos anos 1940. Outro tema central era a infidelidade do pai à mãe.
— Spider representa a força da mulher que cuida e briga pelas suas coisas, que vai até o limite do acolhimento — pontua Saron.
— Ela traduziu para as artes visuais esse empoderamento feminino de que tanto se fala hoje. A aranha é a mulher controladora, reprimida, que tece, que pode matar e amar — completa o superintendente da Fundação Iberê, Emilio Kalil.