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Enigmática mecha de cabelo que poderia ser de Leonardo Da Vinci será analisada

Informação foi revelada no aniversário de 500 anos de morte do artista italiano

AFP

VINCENZO PINTO / AFP
"Os Cabelos de Leonardo da Vinci", em francês, com a suposta mecha do artista

Uma enigmática mecha de cabelo que poderia ser de Leonardo Da Vinci, apresentada nesta quinta-feira (2) na Itália pela primeira vez, vai ser analisada, a fim de detectar o DNA do gênio renascentista, cinco séculos após sua morte.

— Esta mecha de cabelo permaneceu em segredo por muito tempo. Nós a encontramos há três anos nos Estados Unidos, e nos permitirá realizar análises de DNA de Leonardo — explica o historiador da arte Alessandro Vezzosi.

— Após 40 anos de estudos sobre a genealogia de Da Vinci, em 2016 apresentamos 35 descendentes (indiretos) vivos do mestre. Pouco tempo depois, fui contactado por um colecionador que revelou possuir a mecha e que concordou em mostrá-la — acrescenta.

Nascido em 1452 de um relacionamento ilegítimo entre um rico notável e uma camponesa adolescente, Leonardo foi criado por seu avô paterno e seu tio. A teoria oficial sustenta que ele não teve filhos, mas teve uma dúzia de meio-irmãos.

Alessandro Vezzosi escolheu simbolicamente o 500º aniversário da morte do mestre italiano para apresentar nesta quinta-feira na biblioteca leonardiana da pequena cidade de Vinci, na Toscana, o que ele chama de "relíquia".

Trata-se de algumas dezenas de fios de cabelo claros, entre o branco e o louro, afixados em um quadro com a inscrição em francês Os Cabelos de Leonardo da Vinci e um anel de bronze que os documentos históricos descrevem como aquele que o artista portava.

— Não podemos afirmar com 100% de certeza que se trata de seus cabelos, mas dizemos que é possível, com base nas pesquisas genealógicas, comparar o DNA deste material genético com o dos seus descendentes vivos, encontrados na Toscana, e em diversas sepulturas na França e na Espanha — explica Alessandro Vezzosi.

Segundo o especialista da Renascença, a mecha de cabelo e o anel apresentados pertenceram ao escritor francês Arsène Houssaye (1814-1896), inspetor geral dos museus da província, que foi encarregado em 1863 de realizar escavações no túmulo de Leonardo, no castelo de Amboise, no Vale do Loire (centro da França).

A autenticidade da mecha suscita dúvidas em Eike Schmidt, diretor da Galerie des Offices, famoso museu florentino onde estão expostas várias obras do mestre.

— Nenhum especialista acredita. Além disso, é extremamente improvável que esta mecha de Leonardo possa estar numa coleção americana — declarou à imprensa. — A tradição de colecionar mechas de personagens famosos data do século XIX e não da Renascença.

VINCENZO PINTO / AFP
Público pode ver a suposta mecha de Da Vinci ao lado de outras relíquias sobre vida do italiano

As escavações de Arsène Houssaye revelaram um esqueleto - a mão direita colocada atrás da cabeça, fragmentos de túmulo com as menções -EO -AR-DUS -VINC- ("EO" como Leonardo e "VINC" como Vinci) e medalhas francesas e italianas do início do reinado de Francisco I. Também foram encontrados alguns restos de barba e cabelos brancos.

Falecido em 2 de maio de 1519, aos 67 anos, Da Vinci passou os últimos três anos de sua vida na França, onde o rei Francisco I o convidou para exercer seus muitos talentos nas artes e nas ciências.

Ele foi enterrado na igreja Saint-Florentin do castelo, mas o edifício foi destruído em 1807 e seus supostos ossos encontrados por Arsène Houssaye estão desde 1874 na capela de Saint-Hubert em Amboise.

O paradeiro da mecha e do anel foi descoberto no século XX nos Estados Unidos, adquirido por um colecionador e depois por um segundo. Este último, que deseja permanecer anônimo, entrou em contato com Vezzosi.

No entanto, os pesquisadores não pretendem perturbar o descanso do genial inventor para realizar análises de DNA em seus restos, um ato "que poderia ser percebido como uma profanação", explica Vezzosi.

— Com os descendentes vivos e as sepulturas de descendentes, podemos fazer comparações sem tocar no túmulo, que é um lugar a ser respeitado com seu significado histórico e simbólico — diz o historiador, que deve revelar as conclusões de sua pesquisa nos próximos meses.

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