Às 18h desta quinta-feira, o artista russo Fyodor Pavlov-Andreevich subiu ao palco do Teatro Renascença, em Porto Alegre. Sem roupas, ele deitou sobre um pedestal construído especialmente para a ocasião e esperou, em silêncio. Assim começou a performance 42 Cards, apresentada pela primeira vez pelo artista, dentro da programação do 32º Festival de Arte da Cidade de Porto Alegre, promovido pela prefeitura da Capital.
Cada pessoa que entrava no teatro recebia um cartão com uma instrução para interagir com o corpo do artista. Com o papel em mãos, um a um, os participantes subiram no palco, lavaram as mãos em uma das duas pias instaladas ali e realizaram ações diversas, como massagear os pés de Fyodor, tapar seu nariz por 10 segundos, arrancar um pelo da sua sobrancelha e fazê-lo bater palmas. Durante todo o tempo, o artista permaneceu inerte, e ele continuará assim, totalmente à disposição do público, até as 22h30min desta quinta-feira. Na sexta-feira (19/10), o artista volta a realizar o trabalho, a partir das 16h até 21h, quando encerrará o trabalho e conversará com o público.
O evento tem idade mínima (18 anos) e não é permitido fotografar o artista, que tem a genitália escondida por uma estrutura. A entrada é franca e não é necessário se inscrever.
Convidado internacional do festival, Fyodor Pavlov-Andreevich realiza ações que exploram a distância que separa um espectador de um objeto de arte. Em 42 Cards, seu corpo está sobre um pedestal iluminado e, na medida em que recebe a atenção dos participantes, a cena começa a parecer um curioso ritual religioso. Antes de iniciar o trabalho, o artista falou a Zero Hora:
— Quando estava escrevendo as instruções nos cartões, sempre pensava no que a gente faz na infância. A escola é um universo muito cruel. Os meninos torturam as meninas, as meninas implicam com os meninos. É algo obrigatório. E acho que o que fazemos até hoje é influenciado por isso.
Fyodor já trabalhou com uma das artistas contemporâneas mais famosas da atualidade, a sérvia Marina Abramovic. Lembrando da performance Ritmo 0 (em 1974, Marina convidou o público a interagir com seu corpo usando diversos objetos que poderiam lhe causar prazer ou dor), o artista destacou:
— A performance da Marina era caótica, desorganizada. A minha é organizada. Não pergunto à pessoa o que ela quer fazer comigo, dou as instruções.
Confira as fotos: