Quase um mês depois de sua inauguração no Santander Cultural, prédio localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, a exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, prevista para ficar em cartaz até o 8 de outubro, teve no sábado (9) seu último dia de visitação. Neste domingo (10), o Santander Cultural não abriu as portas e divulgou uma nota anunciando o seu cancelamento. Foi a reação da instituição ao movimento de protesto de entidades e pessoas que avaliaram a mostra como ofensiva, por razões que vão de "blasfêmia" no uso de símbolos católicos à difusão de "pedofilia" e "zoofilia" em alguns dos trabalhos expostos.
As reações contrárias à Queermuseu ganharam corpo nos últimos dias, com manifestações nas redes sociais de grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL) e contrangimentos presenciais dirigidos aos visitantes. No sábado pela manhã, a página do MBL no Facebook reproduziu um texto publicado no site Jornal Livre com o título "Santander Cultural promove pornografia e até pedofilia com base na Lei de Incentivo à Cultura". Ao longo do final de semana, diferentes perfis de pessoas e entidade alinhadas ideologicamente ao MBL e a organizações religiosas, engrossaram o protesto virtual, que pediu o fechamento da mostra, rebaixou a nota de avaliação da página do Santander Cultural no Facebook e, até mesmo, pregou um boicote ao banco.
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A seguir, leia manifestações de artistas sobre o encerramento da exposição Queermuseu:
Mário Röhnelt, artista com obra em exibição:
"É lamentável que o Santander Cultural tenha tomado como solução, à menor levantada de tom do discurso conservador, a pior via possível: o cancelamento da mostra. Isto acarreta no desgaste da instituição, na dúvida gerada sobre as verdadeiras intenções do banco na produção de cultura. Os indivíduos têm o direito de verem o que quiserem. O Banco poderia avisar que a mostra pode conter material ofensivo a determinadas crenças e comportamentos. Mas fechar as portas, nunca. É dar o braço à torcer para os histéricos de plantão. Por sinal, é bom lembrar que a mostra é linda! E de altíssimo nível. A montagem é ótima e eu não encontrei nenhum apelo às práticas da pedofilia e da zoofilia."
Sandro Ka, artista visual, que também participa da Queermuseu:
– É lamentável que essa onda conservadora motivada por posições equivocadas e ignorantes tenha forçado uma instituição cultural a tomar essa posição de fechamento de uma exposição que traz uma temática importante para se pensar no mundo hoje é nas relações de poder entre grupos hegemônicos e grupos vulneráveis. A heteronorma se afirma da pior forma possível. Todos e todas perdemos com isso.
Luciano Alabarse, secretário municipal da cultura
Por telefone, Alabarse disse estar esperando uma manifestação ampliada do banco para evitar "pôr mais gasolina no fogo", mas ressaltou:
– Eu sempre fui contra a censura e continuo.
Luiza Mell, apresentadora e ativista pela causa animal: "Uma arte de péssimo gosto"
Ana Norogrando, artista plástica, que participa da mostra: "Tempos tristes estamos vivendo - uma guinada à Idade Média!"
Iran Giusti, criador do tumbrl "Criança Viada", que inspirou a obra da Bia Leite – acusada de pedofilia: "Como dizer que uma obra de arte que contém imagem de zoofilia é apologia?"
Rogério Nazari, artista que participa da exposição: "Que vergonha"
Ana de Hollanda, ex-ministra da cultura: "Estarrecedor!"
Letícia Lampert, artista visual: "Que moral de Cuecas! Que retrocesso!"
Em sua página no Twitter, o músico Roger Moreira publicou uma série de tweets criticando a mostra:
Danilo Gentilli, apresentador e comediante, também publicou uma série de tweets sobre a exposição:
David Ceccon, artista que trabalha com questões trans: