A provocação do francês Marcel Duchamp (1887-1968) até hoje incomoda muita gente que depara com objetos cotidianos exibidos como obras de arte em museus ao redor do mundo. Em abril de 1917, ele submeteu um mictório de porcelana, comprado dias antes, para ser exibido em uma exposição coletiva. Suas únicas interferências foram girar a peça em um ângulo de 90 graus, assinar "R. Mutt, 1917" e batizá-la como Fountain (Fonte). Embora a mostra fosse aberta a qualquer artista e tivesse o lema "sem júri, sem prêmios", o trabalho foi recusado.
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Por trás do simples gesto já estavam os procedimentos que até hoje ajudam a definir o que é a arte contemporânea: a apropriação de objetos cotidianos, o uso do humor, a obra de arte como elaboração mental (e não objeto feito pela mão do artista), a discussão da autoria e o questionamento do sistema de arte. O contínuo fascínio exercido por Fonte, que completa cem anos em 2017, é o mote da exposição 25 Vezes Duchamp – A Fonte 100 anos, que será inaugurada na terça-feira à noite, no Museu de Arte Contemporânea (MAC-RS).
A curadoria é assinada por José Francisco Alves, que em março apresentou a mostra A Fonte de Duchamp: 100 Anos da Arte Contemporânea, reunindo mais de cem obras do acervo do Margs. A nova exposição é um desdobramento desta primeira, com a importante diferença de que quase todos os 56 trabalhos são inéditos. Apenas três obras já haviam sido exibidas e integravam o acervo do MAC-RS, Duchampbike (2003), de Nelson Leirner, e duas fotografias de Daniel Escobar.
Alves convidou artistas de Porto Alegre e outras cidades brasileiras e do Exterior a exibirem obras que de alguma forma conversassem com a Fonte de Duchamp. Eles lhe responderam com releituras, como Por Lugares Diferentes do Corpo III (2017), de Bebeto Alves, e Relendo Duchamp (2017), de Fernando Baril. Também enviaram obras que recorrem a procedimentos criativos duchampianos, em especial a apropriação de objetos, como Tronco (2016), de Ana Norogrando, montada a partir do fragmento de um manequim e uma mangueira de PVC, e Duchamp no Banco, em que Britto Velho trabalhou a partir de um banco de madeira e MDF. As obras chegaram a surpreender o curador:
– Com este projeto eu mesmo me dei conta de que a obra e o papel de Duchamp para a arte do século 20 foi muito maior do que eu imaginava – afirma o especialista, que selecionou artistas que já demonstravam interesse pelo ícone. – Muitos deles têm admiração profunda pelo célebre artista, a ponto de realizarem já muito antes releituras, novas abordagens da obra de Duchamp, e outros com produção que traz procedimentos criativos levantados por Duchamp há cem anos ou mais, a apropriação, a arte mental (conceito) tão ou mais importante que as questões artesanais, técnicas.
25 vezes Duchamp – A Fonte 100 anos
Abertura terça-feira (25/7), às 19h.
Museu de Arte Contemporânea do RS (6º andar da Casa de Cultura Mario Quintana, na Rua dos Andradas, 736, no centro de Porto Alegre).
Visitação: De terças a sextas, das 10h às 19h, e sábados, domingos e feriados, das 12h às 19h. De 26 de julho a 3 de setembro. Entrada franca.
A exposição: coletiva homenageia o centenário da obra "Fonte", de Marcel Duchamp, com 56 trabalhos de 24 artistas, como Adolfo Montejo Navas, Mario Röhnelt, Nelson Leirner, Patrício Farias, Antônio Augusto Bueno e outros.