Como se esboçasse o primeiro sinal vital em meio à pior crise financeira desde a inauguração, em 2008, do prédio projetado pelo português Álvaro Siza, a Fundação Iberê Camargo (FIC) abre nesta quinta-feira (18) duas exposições: Depois do Fim, coletiva de artistas de diferentes gerações com curadoria de Bernardo José de Souza, e NO DRAMA, reunindo obras de Iberê Camargo que dialogam com o teatro e outras artes, organizada por Eduardo Haesbaert. As mostras poderão ser visitadas apenas às sextas e sábados, das 13h às 18h, dentro do horário de funcionamento que a FIC adotou em agosto de 2016 como uma das estratégias para reduzir custos.
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Depois do Fim, que ocupa o térreo e outros dois pisos do prédio da Fundação, é uma exposição motivada pelo senso de urgência com relação a questões que colocam a sociedade em risco em diferentes domínios, como o crescimento da intolerância política, a recessão decorrente da crise econômica mundial e a perspectiva de um colapso ambiental. Alude também a temas sempre presentes no imaginário, como o fim dos tempos e a ideia de um mundo pós-apocalíptico.
Mas há outra camada de leitura, autorreferente: é o desejo de reinvenção da própria FIC em uma época de torneiras secas para o financiamento cultural. Depois do Fim e NO DRAMA são os primeiros esforços de fôlego da Fundação em seu novo posicionamento por meio do qual pretende dialogar com outras linguagens além das artes visuais e outros campos do conhecimento. Em resumo, pretende se tornar uma instituição mais aberta e acessível ao público. Por isso, as mostras são acompanhadas de uma programação de atividades paralelas.
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Anunciado em março como curador residente da FIC, Bernardo José de Souza – que agora tem o título mais abrangente de diretor artístico – explica que, por trás do conceito sofisticado de Depois do Fim, a curadoria espera que os espectadores possam fruir as obras sem precisar necessariamente de conhecimentos aprofundados:
– Quero que o público tenha uma experiência menos pautada por chaves de acesso. Que possa relacionar-se com as obras lançando mão de seus sentidos, sua bagagem de vida. São obras bastante abertas a uma experiência mais viva.
Veja imagens das exposições Depois do Fim e NO DRAMA:
Reunião entre mestres e novos nomes da arte
Estão presentes, em Depois do Fim, peças de acervos públicos e coleções particulares de artistas, em sua maioria, de Porto Alegre ou radicados na Capital – de mestres do passado como Ado Malagoli e Leopoldo Gotuzzo a novos talentos como Luiz Roque e Romy Pocztaruk, passando por nomes como Elaine Tedesco e Vera Chaves Barcellos, além do próprio Iberê Camargo.
Inaugurada apenas dois meses depois da chegada de Souza à FIC, Depois do Fim é, segundo ele, uma "resposta em caráter emergencial a esse senso de urgência que todos experimentamos no contexto global":
– Esse recorte acaba respondendo também a uma série de restrições financeiras que a Fundação tem neste momento. A captação (de verba pela Lei Rouanet) ainda está em compasso um pouco lento, já começou com o ano avançado. Mas isso de forma alguma impacta o resultado da exposição.
Souza adianta que pretende inaugurar um novo bloco de mostras em agosto, mas o plano depende de recursos. Ainda não há previsão de ampliar o horário de visitação. O café não está operando, mas funcionará excepcionalmente neste sábado (20), das 19h à meia-noite (dentro da programação da Noite dos Museus), e no dia 27, do meio-dia às 20h.
Procurada por meio de sua assessoria, a FIC não divulgou o valor já captado dos R$ 6,5 milhões autorizados pelo Ministério da Cultura para o plano anual de atividade pela Lei Rouanet. A CPFL Energia confirmou à reportagem aporte de R$ 300 mil, mas a Fundação não comenta o assunto.
DEPOIS DO FIM E NO DRAMA
Abertura ao público nesta quinta-feira (18), das 19h às 21h.
Visitação a partir de amanhã, às sextas e sábados (inclusive feriados), das 13h às 18h. Até o dia 12 de agosto.
Fundação Iberê Camargo (Padre Cacique, 2.000), fone (51) 3247-8000, em Porto Alegre.
Entrada franca.