No universo de Leonardo Fanzelau, de 33 anos, o playground se situa em um ambiente sinistro e um acidente de avião pode virar um divertido happy hour regado à champanhe. Essas são algumas das imagens presentes nas novas obras que o artista apresenta ao público neste sábado (08/04), a partir das 11h, na Galeria Gestual (Cel. Lucas de Oliveira, 21).
Com sete obras inéditas, Pós-Drama marca o retorno de Fanzelau quase quatro anos após sua última individual. Até 2013, seu nome era presença constante em mostras da Capital. Fanzelau despontou no circuito artístico logo após se formar no Instituto de Artes da UFRGS, em 2008, com esculturas que eram híbridos de brinquedo com aparelhos de tortura. Um desses trabalhos, da série Passatempos Ocasionais (2008), está na mostra A Fonte de Duchamp: 100 Anos da Arte Contemporânea, em cartaz no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs). Colorida, a obra parece um balanço – mas tem uma serra.
– Eu estava no Margs e vi uma criança se empolgar com o trabalho. Mal sabe ela de onde aquilo vem... Gosto que o trabalho tenha cara bonitinha, crie uma expectativa, e depois a desconstrua – comenta o artista.
A mistura de ironia e perversão, violência e lugar comum é uma constante na obra de Fanzelau. E o francês Marcel Duchamp (1887 – 1968) permanece uma influência importante para ele, que frequentemente terceiriza parte da mão de obra dos trabalhos e dá novos significados a objetos ordinários. Três novas obras que estão na mostra, Bilboquê (2017), Ginasta (2017) e Pega-Varetas (2017), lembram brinquedos, mas têm características como material e tamanho alterados a ponto de tornarem-se perigosas. Sua versão para o clássico "pega-varetas", por exemplo, é colorida, mas feita de aço, o que a torna pesada demais para uma criança brincar.
– Eu me aproprio da ideia. O brinquedo já existe, só dou uma mexida que o inutiliza – analisa. – É para brincar mentalmente, e é deboche também – conclui.
Uma diversão sinistra,uma tragédia divertida
Na primeira sala da galeria estão reunidos os trabalhos Aeroplayground (2017) e Hiper Alegre (2017), Super Alegre (2017) e Muito Alegre (2017). O primeiro exibe a fotografia de um escorregador em uma pracinha – à primeira vista inofensivo, se o artista não tivesse manipulado a imagem até torná-la sombria. Os outros três são desenhos inspirados nos manuais distribuídos aos passageiros de avião. As ilustrações simulam a situação de pouso forçado sobre água, mas nos personagens não há tensão, e sim alegria: deslizam pelo escorregador inflável como se estivessem em um parque e fazem festa no bote salva-vidas.
– Peguei um desses manuais há uns seis ou sete anos e fiquei fermentando a ideia. Quis usar aquelas imagens, mas fazendo modificações. A ideia era inserir um elemento de alegria na tragédia. Contratei um ilustrador, ele me mandava imagens em pastel, num tom fechado. E eu: "Quero mais vida!". Depois ainda deixei mais vibrante.
O título da mostra dá uma pista sobre as intenções de Fanzelau, que se inspirou no termo "pós-verdade" para conceber um universo de objetos que enganam como dramas fabricados em um set de cinema.
A exposição fica aberta à visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h e sábado, das 10h às 14h, até o dia 29 abril.
Assista vídeo em que o artista apresenta o seu trabalho:
Confira outras mostras que abrem neste sábado, 8 de abril:
Quatro fotógrafos e um vale suíço
Está marcada para as 19h, na Galeria Mascate (Rua Laurindo, 332), a inauguração da mostra La Valle Dentro, com obras dos fotógrafos Karen Biswell, Christian Lutz, Maya Rochat (foto acima) e Tiago Coelho. Eles apresentam trabalhos desenvolvidos durante residências artísticas nas edições de 2015 e 2016 do Verzasca Foto Festival, na Suíça. O evento convida artistas a uma experiência criativa em meio à geografia rochosa do Vale Verzasca. Durante a vernissage, Régis Duarte lançará a coleção de roupas Vintage Dele Mesmo. A mostra La Valle Dentro segue em cartaz até 12 de maio, com entrada franca, de segunda a sexta-feira das 14h às 18h.
Sobre a melancolia dos sonhos
Em sua primeira exposição, A Poética dos Sonhos, a psicóloga e professora Sônia Azambuja mostra uma série de esculturas em terracota que procuram exprimir os estados de alma. As peças representam mulheres e crianças de ar sonhador e melancólico, além de migrantes. Estarão à mostra no Ateliê Contextura (Rua Dr. Armando Barbedo, 1.091, bairro Tristeza), a partir de sábado, e de segundas a sextas, até 6 de maio, sempre das 9h às 18h.
Nova geração em destaque
A galeria Arte&Fato (Protásio Alves, 1.893) dá destaque a dois jovens artistas, o porto-alegrense Cassiano Sotomaior e o argentino Pablo Valentin, na exposição Ode ao Silêncio, que terá abertura sábado, às 20h. Embora recorram a técnicas diferentes, os dois mostram trabalhos figurativos expressionistas que, na leitura da curadora Ana Zavadil, trabalham o conceito da contemplação. Sotomaior exibe pinturas com rostos dramáticos criados a partir de imagens de jornais (imagem no pé da página). Já Valentin mostra desenhos em preto e branco (abaixo) que se aproximam da psicanálise evocando sonhos e sensações. Ode ao Silêncio pode ser visitada até 28 de abril, de segunda a quinta-feita, das 12h às 18h, e sextas das 12h às 17h.