Os alemães Hubert Fichte e Leonore Mau formaram um casal incomum. Ela abandonou marido, filhos e um estilo de vida confortável para viver com ele, 20 anos mais novo. Entre as décadas de 1960 e 1980, viajaram pelo mundo juntos. Fascinados por culturas afro-americanas, passavam temporadas em países da América do Sul, entre eles o Brasil. Ele escrevia e ela fotografava, numa parceria que deu origem a um legado de fotofilmes e livros.
Este ano, que marca o centenário de Leonore e três décadas da morte de Fichte, tem rendido homenagens aos dois. Mas, se os livros de Fichte são aclamados internacionalmente, as imagens de Leonore ainda precisam encontrar seu público, pelo menos no Brasil. Por isso, o Instituto Goethe expõe apenas a obra da artista em A casa de Leonore Mau, reforçando a autonomia de suas fotografias com relação ao trabalho do companheiro.
A exposição é um recorte de 130 imagens feitas por Leonore em três viagens pelo Brasil. Jamais vistas por aqui, foram selecionadas pelo professor e pesquisador do Instituto de Artes da UFRGS Alexandre Santos na Fundação S. Fischer, em Hamburgo, na Alemanha. Os registros feitos entre 1960 e 1980 em capitais brasileiras são organizados por temáticas, como o candomblé, o Carnaval, a infância, a ditadura militar, as discrepâncias sociais e até fotos realizadas em uma breve passagem por Porto Alegre.
– Ela tem uma leitura muito perspicaz da situação que o país vivia. Fotografou o Carnaval popular de rua e o Carnaval "para turista ver", com as loiras das escolas de samba, os interiores de casas burguesas e de casas populares. Tudo sem juízo de valor _ avalia Santos.
Para o curador, as fotos incorporam o conceito de etnopoesia, elaborado por Fichte. Sua prática combinava arte e etnologia, procurando aprender com o "outro", em vez de estudá-lo de longe.
– Leonore não estetiza a vida de quem ela se aproxima, ela está ali vivendo as coisas com as pessoas. Não é o europeu que sabe tudo olhando para o brasileiro.
Com formação de fotodocumentarista, Leonore embrenhou-se na etnologia e na arte. Seu trabalho vive nessa fronteira, assim como a própria artista levava a vida.
– Penso que a casa dela é esse trânsito. Ela e Fichte transformaram os lugares de viagem em uma espécie de lar – comenta Santos.
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A casa de Leonore Mau
Curadoria: Alexandre Santos
Galeria do Instituto Goethe Porto Alegre (24 de outubro, 112), fone (51) 21187800.
Abertura nesta quinta-feira (17/11), às 19h, com palestra do escritor e ensaísta alemão Diedrich Diederichsen.
Visitação de segunda a sexta, das 10h às 19h30min, e sábados das 9h às 12h30min. Até 30 de março de 2017. Entrada franca.
A exposição: cerca de 130 fotografias feitas pela artista alemã durante viagens pelo Brasil.