A 15ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza, que será aberta no próximo dia 28, promete lançar uma provocação ao cenário mundial. Com o tema Reporting from the Front, esta edição – liderada pelo arquiteto chileno Alejandro Aravena, vencedor do prêmio Pritzker 2016 – convocará o mercado para menos conceito e mais ação. Ou, traduzido na prática, fará uma defesa de projetos mais humanos e direcionados às passividades das grandes cidades em questões primordiais, como moradia, mobilidade e sustentabilidade.
No pavilhão brasileiro, o destaque será a mostra Juntos, com curadoria do arquiteto e urbanista Washington Fajardo, que selecionou 15 projetos como representantes do país. As escolhas, afirma Fajardo, apontam autores inseridos na sociedade, e não sendo endeusados por ela. Entre esses escolhidos, Porto Alegre se faz presente com o conjunto de prédios Vila Flores, localizado no bairro Floresta e construído na década de 1920 conforme projeto do arquiteto alemão Joseph Lutzenberger (1882 – 1951).
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– Temos que acabar com a ideia de obra-prima. Os trabalhos selecionados têm soluções alcançadas com tempo e esforço. Gosto de dizer que é uma arquitetura conquistada – afirma Fajardo.Presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade e do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro, Fajardo descreve o conjunto Vila Flores como uma “restauração orgânica”. Nesse conceito, criar vivência no local ao mesmo tempo em que as obras são realizadas torna-se mais valioso do que priorizar questões exclusivamente técnicas, como as cores originais das paredes ou a madeira usada na estrutura.
– A vitalidade é o melhor procedimento de restauração – afirma Fajardo. – Garantir vida ao patrimônio é o princípio mais sustentável que podemos ter. Vejo no Vila Flores de Porto Alegre um trabalho continuado de uso, e que é feliz na sua forma e ressignifica o lugar. Faz sentido ao estar aberto às pessoas, mesmo em processo constante de renovação.
Conjuntos habitacionais, parques, sinalizações em comunidades carentes e até mesmo uma escola integram a seleção brasileira que será apresentada na exposição em Veneza. Ao destacar elementos como cultura negra e centralidades históricas em sua seleção, Fajardo também vislumbra a possibilidade de mostrar novas percepções da arquitetura do Brasil aos demais países participantes:
– Somos muito relacionados ao modernismo ou às favelas. Será importante sair desse binário.
Contudo, os olhos internacionais ainda parecem se voltar à geração modernista brasileira. Foi o que se viu, há duas semanas, com o anúncio do prêmio Leão de Ouro, da Bienal de Arquitetura de Veneza, para o arquiteto e urbanista brasileiro Paulo Mendes da Rocha, 87 anos, pelo conjunto de sua obra. Segundo o Conselho de Diretores da Bienal, “o atributo mais marcante de sua arquitetura é a atemporalidade”.
O diálogo entre inclusão e uso consciente de materiais ganha força na figura do curador desta Bienal. À frente do escritório Elemental, com sede no Chile, Aravena tem entre seus mais relevantes trabalhos obras de baixo custo e inclusão social. Destoante das grandes estrelas, é criador do conceito de meia-casa: imóveis de medidas enxutas, com previsões estruturais para futuros “puxadinhos”. Projeto que tentou implementar sem sucesso em São Paulo, em 2008 – experiência que classificou como decepcionante.
Para a Bienal, a proposta do arquiteto chileno é ir contra o “Não faça isso em casa”. Na divulgação à imprensa, Aravena complementou: “Dada a complexidade e variedade de desafios aos quais a arquitetura tem que responder, Reporting from the Front tratará de escutar aqueles que foram capazes de ganhar certa perspectiva e, consequentemente, estão na posição de compartilhar conhecimento e experiências com aqueles de nós que estão no nível do solo.”
A 15ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza, também classificada como uma cruzada contra a indiferença, terá em seu calendário, que se encerra em 27 de novembro, 19 projetos paralelos, em uma proposta de ocupação por toda a cidade.