Afastada do movimento e do aglomerado urbanos, a Fundação Vera Chaves Barcellos (FVCB), em Viamão, proporciona uma experiência particular frente à arte contemporânea. Ao oferecer um respiro ao agitado e barulhento cotidiano, convida o público a um contato com obras artísticas em um ambiente envolto pela natureza e seus sons, cores e cheiros.
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Na chamada Sala dos Pomares, a instituição mantém desde 2010 um programa de exposições individuais e coletivas, apresentando duas mostras ao longo do ano. Humanas Interlocuções, aberta desde o dia 9 e em cartaz até 16 de julho, é a primeira de 2016.
Como sugere o título, investiga a recorrência da presença e dos usos do corpo na arte contemporânea. Estão reunidos trabalhos de mais de 50 artistas, dando conta de produções desde os anos 1960 até o presente, de uma obra de Regina Silveira de 1963 a uma de Vera Chaves Barcellos realizada neste ano.
No conjunto, é possível identificar os diferentes modos com que os artistas se valem de imagens, representações e sugestões do "humano". Destacam-se trabalhos que pontuam o uso do corpo em seus aspectos performático e de encenação, mas desdobrando esse procedimento em diferentes segmentos. Isso gera aproximações temáticas e conceituais na exposição, tendo como espécie de eixos o potencial comunicativo, o culto à forma, a noção de identidade e a dissolução do indivíduo.
O visitante tem a oportunidade de observar alguns diálogos reveladores na produção gaúcha entre obras distanciadas no tempo, mas que muito se aproximam pelo recurso de ficcionalização na fotografia a partir do corpo, como as obras de Mara Alvares dos anos 1970 e da dupla Ío realizadas nesta década. Também a exposição dá a chance de se ver momentos que pontuam a trajetória da arte contemporânea no país ao reunir desde obras de Paulo Bruscky até trabalhos recentes de Berna Reale e Paulo Nazareth, artistas brasileiros em destaque e ascensão no circuito internacional.
Como se trata de uma mostra baseada no acervo da instituição, com curadoria da responsável pelo segmento artístico, Thaís Franco, a maior parte dos trabalhos selecionados para Humanas Interlocuções se vincula às vertentes conceituais e pós-conceituais dos anos 1960 e 1970 e a seus desdobramentos na arte contemporânea das décadas seguintes.
A exemplo das exposições anteriores apresentadas pela FVCB, mais uma vez é surpreendente reconhecer a riqueza do conjunto de obras que Vera e seu marido, o artista chileno Patricio Farías, têm reunido nas últimas décadas. Há itens que ainda não vieram a público. E, mesmo os que já foram antes mostrados, ganham novas possibilidades de leitura e têm seus significados ampliados a partir das estratégias curatoriais com que são (re)apresentados.
É uma coleção em que o conceito e os critérios de escolha para as aquisições das obras fazem dela uma preciosidade não só no Brasil, mas na América Latina.
HUMANAS INTERLOCUÇÕES
Visitação de segunda a sexta, das 14h às 17h30, com agendamento prévio. Até 16 de julho. Gratuito.
Fundação Vera Chaves Barcellos (FVCB), em Viamão (Av. Senador Salgado Filho, 8.450, RS-040), entre as paradas de ônibus 53 e 54. Informações (51) 8229-3031.