Hoje é um dia especial para os que amam o futebol, esporte mais popular do mundo. É que num 28 de fevereiro, há 70 anos, a Seleção do Brasil – a mais vitoriosa entre as seleções nacionais, com cinco conquistas de Copas do Mundo – estreou a camisa canarinho, criada pelo desenhista e escritor gaúcho Aldyr Garcia Schlee, natural de Jaguarão, à época com 18 anos e já radicado em Pelotas, onde passou a maior parte de sua vida.
Antes disso, o selecionado brasileiro jogava quase sempre com um traje todo branco, exceto pelas golas e frisos de mangas azuis. Quando era preciso variar a roupa para não se confundir com o adversário, punha-se uma camiseta azul. É verdade que, mais remotamente, em 1916, o Brasil chegou a usar camisas com listras verdes e amarelas. E, acredite, em 1918, envergou camisas vermelhas; em 1919, listradas em preto e amarelo, como as do Peñarol uruguaio; e, em 1920, azuis com uma faixa amarela no peito, iguaizinhas às do Boca Juniors, time mais popular da Argentina. Que sacrilégio! Mas esses eram episódios ocasionais. Até a metade do século passado, a cor branca predominava nas vestes da equipe brasileira.
Só que a decepção com a derrota frente ao Uruguai, na final da Copa de 1950, em pleno Maracanã, imprimiu uma fama de pé-frio ao uniforme da Seleção. Então, em 1953, o jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, junto com a Confederação Brasileira de Desportos (atual CBF), promoveu um concurso artístico para a escolha de novas vestimentas. O júri (formado por dirigentes da CBD, jornalistas e representantes das belas artes) tinha prazo até 14 de novembro para avaliar as sugestões enviadas pelo correio (no total, chegaram 301 propostas). A vencedora foi anunciada em 15 de dezembro – camisas amarelas (com golas e frisos de mangas verdes), calções azuis e meias brancas (com detalhes em verde).
A versão de que Schlee (que morreu em 2018) teria se inspirado no fardamento do Esporte Clube Pelotas não é verdadeira, até porque ele era torcedor do arquirrival Grêmio Esportivo Brasil. Conforme José Francisco Alves, pesquisador de história da arte, é provável que essa distribuição das cores também tenha sido apresentada por outros candidatos (os documentos do concurso não foram preservados), mas a força criativa do desenho do artista gaúcho prevaleceu. Até porque o regulamento estabelecia como critério a adoção de “ideias e concepções” articuladas “pela melhor forma artística ou originalidade da apresentação ou da confecção dos trabalhos”. No caso de Schlee, a proposta foi enviada em rotogravura, com o jogador Índio, do São Cristóvão, em primeiro plano, e o Maracanã ao fundo.
A estreia da canarinho (apelido dado pelo célebre narrador Geraldo José de Almeida) ocorreu na partida contra o Chile, em Santiago, em 28 de fevereiro de 1954. E o primeiro gol com o novo uniforme foi marcado pelo centroavante Baltazar (do Corinthians), aos 37 minutos do primeiro tempo (o jogo terminou 2 a 0 para o Brasil).
Por coincidência, foi também a primeira disputa da Seleção em Eliminatórias de Copa do Mundo, novidade que havia sido adotada pela Fifa para o Mundial da Suíça. Para celebrar a data, será realizado no próximo dia 6 de março o evento Juntos Pela Paixão, na Casa da Memória Unimed Federação/RS (por limitação de espaço, fechado para convidados). Além da participação de José Francisco Alves, contará com a presença de Dunga, capitão do tetra.